O tom quente
e vermelho do enlace, o arco suave do bater de dedos na espinha de quem estava
e a semente plantada pela recolha sensível dentro dos braços. Abraço era
unir-se a si mesmo pelo outro, ato purinho de criação da gente. A comunhão
perfeita de aceitar-se para se dar integralmente.
Oriundo de
um tempo em que o quadrado das águas era sem mapa e na lousa se escrevia a
lição de casa, a casa era a antessala do sossego e este último a única
inspiração, a entidade nascida no molde dos corpos, transitava nua sob a linha
umedecida do afago, da espera, da entrega e das coisas tenras.
De ossos
perfurados, estrutura difusa, arquitetado agora em redes virtuais, o abraço
definha e se beija noutro espaço. Naquele em que eu e você não somos nós nem
somos nossos, despertencidos. Somos de todos e esperamos mais nada. Dentro do
abraço de hoje eu curto o que me enjoa, o que se publica, a mostra satírica da
liberdade sem dose ou terrenos. O que se expõe, mas não se tem. Liberdade erma.
O abraço foi
perdendo os dentes e a loucura boa de dar em qualquer lugar, de ser verde e
fundido, agarrado e demorado, quase infinito. Muitas vezes em vazios imensos,
muitas vezes sem uma palavra que explique. Porque qualquer lugar agora inexiste
e abraço é só uma palavra que ata os membros superiores de pessoas cada vez
mais desconhecidas. J.M.N.
Um comentário:
Vc escreve muito bem. Ótimo texto em prosa poética.
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