segunda-feira, 29 de abril de 2013

Primal

Sou um pouco de cada coisa que me aflige: a unha que soa a navalha, que risca a noite livrando o orvalho por sobre. Sou do apelo à pedra da ponte. A que segura o peso da minha tristeza quando a atravesso. Indo, as libras do abandono; vindo, as toneladas de mundo que me injetaram. Sei das coisas que me acalmam: a mão do filho igual a minha, suas notas desesperadas no caderno. Sou pelo beijo que a noite dá nos vagalumes. O lado errado do lençol na pele. Sou pelo desvio numa estrada que encima o ar. O tão longe da esperança que vai por ela. Aprendo a areia – o princípio delicado do vidro; aprendo a canção – inocência de quando meu pai era imenso; aprendo a morte – hematomas e vênulas rompidas na pele dela sem movimento, o lugar nenhum da minha solidão. São estas as coisas que aprendi. A partir das quais infiro ser deste ou daquele mundo. Dentro de onde o disfarce é meu rosto, o inimigo sou eu e a ponta da lança está a um dedo da garganta. E grito de todo meu ser – avance. J.M.N.

Um comentário:

Isoldinha disse...

"...Dentro de onde o disfarce é o meu rosto".Todos temos os nosso disfarces...
Adorei!!!