Vou publicá-lo. Nunca pergunto se posso. Assim vamos vivendo esses anos de amizade. Aparados pela possibilidade do encontro – quando der, deu. Ofertou-me generosamente este texto maravilhoso. Imprimo-o com dedicatória e tudo, pois como dizia meu mestre Sigmund, temos defesas contra os ataques e somos indefesos diante de um elogio, neste caso, uma dedicatória. Texto de Gustavo Autran Rodrigues
[Para José Mattos Neto]
ela é doce
ordinariamente doce
como a reconhecemos
como recolhemos seus sumos
como a redimensionamos
e, claro, isso também é ordinário
mas como ornas essa carcaça, esses ossos roídos pela flor dos dias
no teu fôlego
na lâmina do afago
nas janelas em chamas
chovendo tuas folhas
do cubículo úmido que cabe no teu salário
tuas fomes,
teus prenomes
outono, ourives
esquartejando a vida
ligando os pontos
não sei como fazes
não sei como engendrar teus cuidados
não sei como inventar teu hálito dândi
não sei como manufaturas
essa mentira primal
– onde nos refugiamos –
onde douras a noite, a cave
tentando tão somente
transgredir a morte
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