O olhar que os passantes lançam pra aquelas fotos é o mesmo olhar da criança que se vê pela primeira vez no espelho. A presença daquele estranho tão nosso, que nos imita em alguns gestos e palavras, incomoda e nos remove do meio das lembranças boas das origens. Logo somos expulsos pra dentro do mundo e, através dessas fotografias, nos recolocamos na cidade.
Parauapebas tem luzes insones na madrugada, dos trabalhadores do turno, dos ônibus que carregam gente pra cavar a terra atrás das preciosidades subterrâneas. Na madrugada ainda, nascem os primeiros seres que sentirão a maior saudade do mundo, a saudade da própria terra. Nas fotos apareceram crianças de uma pele cobre. Ao fundo o céu anil lhes convocando à permanente lida pela invenção de si mesmos e desse lugar que a cada prédio exige um novo olhar.
Graças aos fotógrafos Anderson Souza e Felipe Borges agora a cidade onde moram tem cartões postais que não se resumem a gaviões e onças. Das paredes do Centro de Desenvolvimento Cultural da cidade desabrochou como milagre um povo plural e, por isso, singular. Uma gente em estado bruto e, por isso, rara.
Trata-se de uma filigrana, um quase-nada, mas esses cliques são de um atrevimento desnorteante. Quem teria a ousadia de parar de espernear como um recém-nascido que espera a atenção de um cuidador que não vem? e, pior dos esconjuros, revelar a beleza que se nega? Esses meninos tiveram! Vamos odiá-los por isso. Por mostrar a nossa cara. Por mostrar que temos uma cara. Por nos lançar nessa aventura dolorosa que é o crescimento. WDC
Um comentário:
Belo texto meu irmão.
E, parabéns pela foto, belíssima.
J.M.N.
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