A verdade marcha e nada conseguirá detê-la (Émile Zola, 1887)
A coisa que tinha me desmentia feito um dedo topado, feito um átrio de coração constipado ou mal feito. Era como a cabala secreta daqueles homens mal intencionados, que de calamidades infestaram o mundo a mandado das graças de ninguém. Aquilo que me prendia o ar antes da vida era a junção de todos os meus medos, a remota frieza com que costurei meu sorriso ao desmanchar-se dela. Era feio demais para atender ao chamado do mundo meu ímpeto. Era como um grunhido ferido muito mais que o animal que o dispersou no ar. A palavra que eu tinha no bolso escondido podia ter sido a liberdade dela e, no entanto, foi minha prisão mais destroçadora. Em cada fiapo de luz da manhã que entrava por entre as grades, lambia-me a culpa serena e doce de já ter visto o que a mentira faz no rosto lindo de quem se entrega. A coisa que eu espremia dentro da boca, a língua afiada passando-a de um lado ao outro feito o fumo de corda nojento, saiu-me por todos os lados. A coisa que me servia apenas de tortura me escapou. Mas ela não ficou liberta. Não comeu as flores de tão belas e apetitosas. Ela me cumprimentou de volta, aceitando eu ser seu amigo por mais um dia. Essa enormidade de tempo que a destruiu e que agora me congela com a bondade vinda de seu abraço final. J.M.N.
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