Hoje alguém chorou em meus ombros. Chorou daqueles choros que apenas os profundos choram. Aquela água desembestada que faz brilhar o rosto e mesmo dentro da dor faz a gente encontrar a beleza de quem a derrama. Água de um universo inteiro em colapso e expansão. Tudo ao mesmo tempo. Ouvi desta pessoa que chorava todas as coisas que já provoquei. Todos os elementos negros de minhas miragens. Meu deserto de vento e saudade se me abateu. Estava escutando como se fosse destinada a mim a adaga desembainhada para o ataque mais feroz. E recobrei a noção de tempo pouco antes de me quedar sem história, milésimos antes de me arremessar contra o muro. O telefone toca. Do outro lado alguém conhecido. Alguém que eu fizera sofrer. Minha vida revisitada – uma culpa atroz e larga. Por um momento eu quis pedir perdão. Por intensos minutos pensei em oferecer meu sacrifício. Até que o choro que eu amparava cessou e eu finalmente entendi que mesmo torto, desigual e indevido eu me qualificara a ser porto. Em cujas margens ancoram desde caravelas a corvetas de mar e guerra. E finalmente senti o perdão que tanto esperei. De nenhum lugar além do horizonte, mas dentro de mim mesmo. J.M.N.
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