“Parai tudo que me impede de dormir:
esses guindastes dentro da noite,
esse vento violento,
o último pensamento desses suicidas.”
O sono antecedente – Jorge de Lima
Aos que andam pela noite sem princípio nem fim, eu rezo com a voz nublada e sem limites – somos todos irmãos. Somos todos da mesma pedra no caminho de tantos.
Aos marechais das guerras vencidas por outrem, oferto meu uniforme de gala. A pose, a fome, meus objetos de pendurar luares. Somos todos, guirlandas de festa e fatalidades para algum covarde que não viu nossos sinais de alerta.
Aos homens do esgoto. Aos cérebros malignos. Às artesãs do corpo, minha coragem. Revolvem o que apodreceu, pensam em tantos assassínios que não lhes sobra vida para cultivar amigos e, por fim, dormem com tantos insones que não lhes sobra cansaço para que venha alguém e queira velar.
Aos amigos que partiram. Aos amores que morreram ou se mataram porque pequei. Aos fedores das lembranças sobre as cômodas de alguém, minhas desculpas mais sentidas. Não lhes soube as raízes e, portanto, não as alimentei. Não me soube a tempo e, portanto, envelheci.
E como aos cheiros não se emprestam carícias, sinto não ter chegado antes de ter sido usado. Apenas para evitar a lucidez tardia da derrota. Apenas para caber no tempo antes de toda a dor. J.M.N.
Um comentário:
Texto de uma feiura atraente.
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