Voltei por amor. Por medo. Por achar que não podia conquistar o planejado. Voltei por razões secretas, escusas até. Jamais simples ou impertinentes. Voltei porque a terra me saia da boca, porque meus olhos estavam cada vez mais admirados pelos campos de cereja em flor e pelas peles mouras dos cantos de lá. Sem mais, eu voltei.
Pisei os mesmos percalços, as mesmas intrincadas dúvidas sobre ser ou não ser. Pisei nas dores de outrem, nas esperanças de muitos, no silêncio insuportável de um. Pisei, afundando meus pés nas areias traiçoeiras do exagero, da instância última – a língua precipitada de afloramentos. Pisei meus princípios, meus medos, minha genealogia complicada. Cheio de forças, pisei no passado.
Agora a volta é antiga. A hora trágica da descoberta da solidão é um sonho repetitivo e as conversas sobre quem serei ou o que deixei do outro lado não andam mais na moda. Agora é o presente pastoso de pássaro sem grades, de monstro sem sustos e de canalha exumado. Meu amigo escravo persegue meus riscos. Agora é a memória dos amanhãs e a certeza de que muitos passos dados vazaram pelo caminho.
Voltei para repetir os triunfos sobre mim mesmo. E falhar mais uma vez às portas do tédio. Voltei para certificar os pecados mais desejados, os cumpridos, assumidos. Até aqueles, que levarei para o túmulo. Voltei, uma vez que por dentro eu era o mundo e por fora a mesma rua por onde passava a minha esperança de vê-la. Voltei para os pastos idosos dos meus campos da infância, ao choro fino pela morte de Dadá.
Voltei para esperar que meu dentro de mundo se revele e me rapte uma vez mais. Para mais um sempre medido – um ínfimo imenso. Quero que isso tome conta do que não suporto e me atire ao acaso. E me atire ao além do que é possível. Tão somente canção e poema. Tão somente o que sou mais no íntimo – tantos sentidos dentro do mesmo e finito conjunto de ossos. Um nervo percorrido pela vida.
J.Mattos
Um comentário:
Cada qual em seu caminho
Colidimos
Por que nao voltastes por mim???
Lembrança
Ausencia
Sonho
Desejo
Incompletude.
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