Para o Antônio Maria
Hoje quando digo, quero dizer. Quero inundar os ouvidos e arrumar nortes para os meus vendavais. Soprar, zunir, estourar. Algumas vezes as palavras derramam-se em melodias, operetas geniais, cantorias. Noutras horas atuam como estilhaços e partem rumo a seus destinos dentro de mim, inscrevendo histórias como se fossem abraços secretos. Encômio à loucura.
O acalentar de um amigo, o rosto amado, a desistência ou a culpa ancestral ensejam palavras. Algumas vezes são leopardos, outras vezes rastejam como doninhas, escavando orações e significados. Tua nuca exposta ao amanhecer, minhas mãos espalmadas em tua alma, o som dos mortos, medula doente, todas estas fontes secretam palavras.
Escrevo desde ontem um belo poema e de tanto espremer seu conteúdo apenas o cheiro do amor imbricado ficou. Palavras têm cheiro. Palavras odeiam ficar sozinhas e quando acontece, rebelam-se contra sua condição criando sentidos mortíferos, sinônimos vicerais, insubordinação. Solidão, escuro, enfarto, dor, luta e amor.
Palavras não são modestas, tem mil casas e terras. Hoje acordei com tua falta estampada. Ancorada na flutuante plataforma do esquecimento. Andei com ardor. Sentei sem votade. Chorei diatribes. Não importa. O que não veio, o que não dei conta foi daquela palavra finita, menor que amar. Chamo-a de fim. De silêncio. De morte. Quem sabe aprendo a chamá-la de ausência ou, por fim, ela me dirá que se chama saudade. J.M.N
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