O que faço se te avisto? Calo. Percorro o passado em busca de
atalhos, de esconderijos. Deliro. Uma febre imediata, amargos na boca. De todas
as sobras estas são as piores. Sinestésicas, escondidas e cheias de ardil. Não
suo, não ando, não vivo por três ou mais séculos em segundos. Candelabros,
nossa cama desarrumada, a filha que não tivemos, o carro que não compramos a
prestação. Ali parados cheios de pó e ausência. Por sobre, lençóis brancos. Meus
fantasmas. Aludidos e impossíveis na estação destruída dos sonhos. É quase fim
de tarde e o pôr do sol cor de cobre risca desenhos nos teus contornos e
demarca bem teus passos. Ainda assim, a beleza nascida desse abraço do Sol em ti não me encanta, senão desatina. Calculo a distância. Desando passos. Enquanto percorres minhas veias,
vênulas e brônquios. Imediata. Quero te expelir. Numa tosse desatinada e
horrível. Mas estancas. Depois escapas. E no átimo do sufoco meus movimentos peristálticos
devaneiam. Engulo e cuspo. Contraio os músculos. Contrários estão presentes e
ativos. Não sei qual defesa devo erigir, não sei quanto tempo mais minha
imunidade me dará para assistir tua passada leve e evidentemente sedutora
derrubar os muros, as portas das pensões, os estudantes que saem da aula,
desavisados. Mais uma vez me impedes de tudo quanto posso fazer. Ao te ver. Uma
náusea instantânea e persistente. É assim que perduras. Não a doença que
achava, consumiria toda a bateria do meu coração e as forças das minhas
intimidades, mas a ânsia. Acontecida sempre e unicamente na comoção aflitiva do
encontro. Que como tudo o que passamos enquanto lambíamos as escaras um do
outro, sai da língua e do metabolismo tão imediatamente se consuma. A chama, o
azul incandescente como etileno a mil célsius, isto não acontece mais. E logo
depois que a paisagem se acalma e minhas funções me pertencem novamente,
pergunto aos botões: acontecemos de
verdade? Parece improvável, mas sempre que ocorres em meu perímetro, vem em
mim este mal-estar acumulado de várias vidas. Única pista do acontecido. Um
quase estertor que se não fossem meus passos seguintes, juraria ser um capricho,
uma história contada por anjos sem lira. J.M.N.
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