Depois da
praia a preguiça. Sentados no alpendre verde vendo os dias passarem pra trás. A
casa era só varanda e gente de toda cor entrando e saindo, falando e dançando.
Colocando as memórias mais felizes no cheiro do mar daquela cidade e dentro
dele a imprecisa verdade de que só seria feliz se voltasse a tempos como aquele.
Viveria de passados fosse como fosse. A felicidade aprendera desde cedo, afinal
só acontece em nacos, não em banquetes.
Tornou-se a
saudade em pessoa. A vida pregressa como sonhos de um amanhã que nunca viria. A
casa verde de madeira. Lá dentro o refrigerador Williams de querosene e
eletricidade conservava as comidas e os risos matinais de sua mãe. Vantagem dos
tempos antes dele. A noite cheirava a sapos, os coaxos enfeitados de tristeza.
Cantavam se embalando em redes. Corpos corados, suados e sem sede. Nada mais
senão poemas.
À noite sem
estrelas ou sonhos ruins fazia com que o descanso fosse completo. Não havia sobressaltos,
medo de bandidos. As formigas arejavam a terra devagarinho por sobre as fezes
de outros tantos animais quietos que davam vida ao jardim noturno movendo-se
secretamente. No rebordo dessa quietude fazia-se nele a solidão que ninguém
entenderia. Que todos diriam ser um problema. Nem seus amores, nem seu irmão o
defenderiam. Tampouco os pais ou os amigos. Era uma solidão preenchida, alheia
à presença. Não por rebeldia, mas por amor.
Imaginava
que todos estivessem tão bem consigo mesmos, como ele estava ao sentir a falta
pequena das pessoas ao redor. Isolava-se no amor que os outros não sentiam. E
deglutia a intensidade das feições e dos afetos que lhe detinham no centro do
peito quando pensava em toda a maravilha que as pessoas lhe traziam.
Há tempos a madeira
do piso, as árvores em volta, a cor desbotada das paredes da casa cheiram
outras histórias. Pessoas que nem percebem o viço da memória daquele lugar.
Onde um boi-bumbá dançou e chamou todos à folia, onde nasceram crianças e
histórias, onde velas foram acesas em novenas, onde bem-te-vis destroçados
foram enterrados aos prantos e onde a certeza que o move se fez mais
esplendorosa – a solidão é um imenso baú cheio de coisas de contar a si mesmo.
J.Mattos
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