Tenho essa tendência ao desperdício e ando com uma urna de
saudades debaixo do braço. Incineradas as cenas e casos de passados recentes e
remotos. Vou-me instruindo em minha própria história, uma certa autonomia. Saí
de uma depressão quando comecei a bancar minha autocrítica. Não que tenha sido
um paraíso. Reconheci que sou indevido e simples. Indivíduo. Não sei reinar ou
governar quem quer que seja. Não me seriam dados castelos ou riquezas, pois não
sou feito da coisa torta que faz os que muito têm. Mas desperdiço. A demasia é
o traço das conquistas, a semente dos muitos baixos que vivi. E minha falta é
esta. Deixar sobras e sorrisos. Deixar mapas, apelos e a guarnição da refeição devolvida
todos os dias. Tenho mais do que mereço e não por humildade. Mas pela
irrefletida conquista desde sempre. O que quero tenho. Afinal, um homem do meu
tempo, senhorzinho solitário de infância reprimida. Tudo me davam, tudo quanto
mais, queria. Vou deixando marcas. As marcas ficam bem em meus resíduos. Arranhões
aos imprudentes, nacos de minha carne aos mais ousados. E corro em volta da
casa adormecida. Da virtude que nuca quis, daquela que usaram para me enganar. Por
segurança ou pertinácia. Quero estar perto dos meus, mas com muros entre nós
que a proximidade nos causa efeitos demasiado deletérios. Trocamos notas por
sobre o muro, que nem no romance do poema. Mas é só. Meus antepassados são meus
órfãos, abandono às avessas. Deixei de buscar de onde vim e certamente não
quero saber para onde vou. Esse é mais um dos meus excessos. E assim, no
presente, estou sempre no meio de justificativas e benefícios. Algo feito de
marcas e pronto para novidades. Sempre. J.M.N.
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