Venha e force-me a
ver o que não via, a vida em mim, nas coisas ao redor, nas pessoas que amei.
Chegue e tome para si a mistura das coisas, meus sapatos, meus passos, a terça
parte de minha melancolia. Havia tempos não escrevia. Assim, tão desavisado. O
mundo me percorre novamente. Sem suas químicas e truques. Apenas o mais puro
sentimento de morte e vida, pouca alegria, um sorriso esforçado, entrementes.
Estou aqui neste ponto. Onde todas as minhas forças se refazem. Às portas do
fim daqueles dias de insanidade desmedida. Ando pelas beiras. Agora contido
pelo enfermo que sempre residiu em mim. Eu mesmo. Pura carne e selvageria. Um
menino de natureza doce, mas que tomou café com o diabo. E viveu pra contar.
Sem especiarias, admoestações, coisas que culminem em uma morte propriamente
dita. Apenas esse recesso de vez em quando. Essa ausência do dia-a-dia virulento
desta cidade. De todas as cidades, pelo mundo todo. Esses dias em que escrever
é a única estrada para sangrar sem morrer e sem uma vermelhidão que seja real e
palpável. Esse dia como hoje em que sinto falta de tanta gente. Uns mortos
porque viviam. Outros porque matei. E outros ainda porque esqueceram o viver em
si. Não há pena nem saudade. Mas, como disse, falta. Esse gabarito, como assim
dizer, das coisas que me edificam e mantêm. Tão encantado. Tenho apenas vontade
de deitar no colo do meu amor. E chorar. Por tudo e por nada. Cheio de coisas
que por não me caberem, transbordam encharcando a pele do rosto. Salgando as
extremidades do meu sorriso. J.M.N.
Para ler escutando...
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