Se me oponho à tristeza é porque me
vens contando que o outro lado de mim, sou eu mesmo... E não do avesso, apenas
de outra cor, com contornos diversos, palhaço e louco. Bem vindo e mal quisto
em proporções iguais. Se ouso colocar meus dedos na pena é porque meu coração
te bate. Em ritmo constante e ao mesmo tempo errático, confundindo semânticas e
cordas vocais, pois ora te escrevo (ou escrevo qualquer coisa) e ora te grito
(como grito o que sinto mais do que em qualquer tempo). Se me estrago e
recorto, anulo, beijo, cuspo, esfrego para sair de mim mesmo essa pele que
habito é porque vieste antes. E me fizeste, costuraste, somaste, encostaste teu
lábio no meu, bateste na pedra e me habitaste tu mesma por anos. Se acordo de
sonhos espessos e barbaridades egóicas é que tenho propriedade agora. As
escrituras do meu ser saíram das sombras e acordaram pra vida. Se ouço
Vinícius, se canto com Chico, se escrevo cartas desesperadas ao morto Gabriel
Marques é que a atadura das melhores feridas foram feitas com o teu tecido de
escolhas, às expensas de entrega e euforia e por isso mesmo eu não posso fazer
menos do que ser... do que ser. E se eu sussurro novamente que estou morrendo é
que sei que vens em socorro, e saberás plantar mais um baobá, ultrapassar mais
uma das portas fechadas e abancar-se com a deusa que és na poltrona recém-comprada,
em meu quarto de estudos, sobre os papéis de minha mesa. Sempre olhando com o cuidado
que só tu aprendeste, pois a eternidade te deu paciência e profundidade.
Resta-me entregar os pontos e aprender. Colocar meus limites nas tuas mãos e
esperar que avancemos ou caiamos no fundo do poço, onde até mesmo o desespero
pode parir coisas lindas, coisas incríveis. Se escrevo essa declaração é porque
sinto e nem mesmo sei te dar um nome. J.M.N.
3 comentários:
Finalmente voltaste...
Que lindo.
RTDM
Maestro... mio cuore con le tue parole si profila... Paola.
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