terça-feira, 24 de junho de 2014

Declaração


Se me oponho à tristeza é porque me vens contando que o outro lado de mim, sou eu mesmo... E não do avesso, apenas de outra cor, com contornos diversos, palhaço e louco. Bem vindo e mal quisto em proporções iguais. Se ouso colocar meus dedos na pena é porque meu coração te bate. Em ritmo constante e ao mesmo tempo errático, confundindo semânticas e cordas vocais, pois ora te escrevo (ou escrevo qualquer coisa) e ora te grito (como grito o que sinto mais do que em qualquer tempo). Se me estrago e recorto, anulo, beijo, cuspo, esfrego para sair de mim mesmo essa pele que habito é porque vieste antes. E me fizeste, costuraste, somaste, encostaste teu lábio no meu, bateste na pedra e me habitaste tu mesma por anos. Se acordo de sonhos espessos e barbaridades egóicas é que tenho propriedade agora. As escrituras do meu ser saíram das sombras e acordaram pra vida. Se ouço Vinícius, se canto com Chico, se escrevo cartas desesperadas ao morto Gabriel Marques é que a atadura das melhores feridas foram feitas com o teu tecido de escolhas, às expensas de entrega e euforia e por isso mesmo eu não posso fazer menos do que ser... do que ser. E se eu sussurro novamente que estou morrendo é que sei que vens em socorro, e saberás plantar mais um baobá, ultrapassar mais uma das portas fechadas e abancar-se com a deusa que és na poltrona recém-comprada, em meu quarto de estudos, sobre os papéis de minha mesa. Sempre olhando com o cuidado que só tu aprendeste, pois a eternidade te deu paciência e profundidade. Resta-me entregar os pontos e aprender. Colocar meus limites nas tuas mãos e esperar que avancemos ou caiamos no fundo do poço, onde até mesmo o desespero pode parir coisas lindas, coisas incríveis. Se escrevo essa declaração é porque sinto e nem mesmo sei te dar um nome. J.M.N.

3 comentários:

Anônimo disse...

Finalmente voltaste...

Anônimo disse...

Que lindo.

RTDM

Anônimo disse...

Maestro... mio cuore con le tue parole si profila... Paola.