Para o Wagner que sempre me
incentiva a seguir sendo eu mesmo.
Não guardo em cofre meu desassossego, pois dele quero a presença. Quero sabe-lo
Ocultar o que se sofre não é sanar a dor, é escondê-la. Dor escondida se enfurece
De tal maneira que amanheço perguntando as coisas ao que me desassossega, e ao próprio desassossego
Vou querendo saber quem sou; por quanto tempo escreverei assim, sem ouvidos
Quero, sobretudo, a palavra dentro dele – a voz esgarçada que inocula o perigo de viver bulindo o que me atormenta
Quero essa divisa inominável que é a pele; quando tocada, eriça; quando esquecida, esgota-se e resseca parecendo idade bem avançada dos dias
Trago pra junto do fogo de casa o que me fulmina
Dou-lhe o mesmo chocolate quente que ampara o sono de meu filho. Somos íntimos, quase amigos e o sentido do que me trucida ao mesmo tempo em que me mastiga – conforta
Só por estar livre, fora de um cofre, sem grades ou vigias
Às vezes quero curá-lo do que se investe – tanto delírio. Meu desassossego sofre com o que não faz comigo. Deito em seu nome um poema e novamente o guio
Ele vem para dentro da minha felicidade e, parcimônia à parte, revira as cinzas do que eu disse. Faz meu pranto ser bebido pelo pó do que torrou
Eu o aguardo no fim do dia, para depois deixar-lhe seguir seu rumo
Me dá um sonho, ou, como se diz, um pesadelo. E sorri
Sua mão costurada à minha faz meus traços
Ora vejo que sou seu amigo, noutras, escravo
E nisso, como bem sabe quem já viveu entre grades, sonho com a liberdade que redime
Pois que na rua, no meio de um dia bem quente, com a luz por todos os cantos, posso simplesmente chamar um nome ou dizer um poema
Não fosse o que me consome, nenhum grito me ocorreria
E eu seria apenas um silêncio, sorridente e interminável.
Um comentário:
São irmãs esses nossas luzes e escuridões. O que nos filia pelo sofrimento nos une inexorável. Lindo poema, irmão. WDC
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