Delegou-me a terra. Esse pó que muito junto me serve de piso e me suja à mesma medida que faz avançar. Ando para frente e o pó do meu piso, dado por minha fêmea, adere-se às pálpebras dos meus dias. E entre ciscos e riscos do caminho e da entrega, cujo corpo poeirento me acorre em chão agora e sempre, faço um pedido. O silencioso pedido de não ir e não voar como a mesma matéria fina que se atraca à roupa. Não quero que ela vá. Soprada pelo vento não quero que ela viaje. Cuspida em gotas de chuva não quero que ela se estrague ou se transforme em estiagem para que eu nunca mais a possa decantar e encontrar meu passo a passo. O lado a lado da história. Minha fêmea que me deu um medo estúpido de ser só. Por ser o que eu quero o tão querer dessas palavras. Ela me disse em silêncio que recuperaria a escritura das terras, a quilometragem do meu passado a rodagem marcada no meu compasso interno e, se fosse possível, adornaria com uma vela colorida um possível barco, para que eu – homem – que sem ela declarei não querer viver, mesmo assim, continuasse. Mas não perpétuo. Decerto não alguém sem endereço. E na última carta que me mandou a fêmea que eu rebatizei de costas para tê-la sempre comigo, meu dorso. Ela que escreve com letrinhas mínimas de quem bem sabe o que dizer com amor e senso, endereçou-me o coração e uns bons ventos – dizendo assim, algo que eu nunca mais vou esquecer: moras em mim quando parto e desde que me pariram. És pra mim destino e ato e, por isso, eu te preciso. Espero chegar de noite em sua presença. Seco. Ou molhado, denunciando que recebi a sua carta e que seu nome é parte de minha anatomia. Chamando-a, a partir de agora, eu chamo sempre a mim mesmo. J.M.N.
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