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Mais um texto de livro que deveria ter nascido anos atrás e não nasceu. Como as coisas andam agitadas nas gavetas do tempo, ultimamente, este, escapuliu.
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As perguntas estão molhadas de chuva. Assim eu as deito fora. Não guardo.
Bebi apenas uma, a mais doída – a pergunta de Adriana, por que és assim?
Bebi sem sentir gosto.
Talvez fosse a única água da estação. Única fonte de onde me tenha vindo algo mais que perguntas. Sim ainda sinto os mesmos medos.
Sofia parada no Ribatejo, como uma memória esgotada. Ainda me assalta a forte impressão de que eu devia ter dito sim. Não há hora certa para estas epifanias e, afinal, os sobressaltos, as bravatas, as tesouradas que sejam, a atacar os velhos presentes, as velhas fotografias. Esses rituais de adeus também levam um monte da gente.
Amoras silvestres no café da manhã. Lisa chorando o uruguaio perdido em Londres. Adquiri mil panelas em miniatura para amainar sua dor. Estávamos na cidade das casas de boneca. Junto ao mar e aos castelos de Northboroughs. Ninguém descobriria. Mas fui só um ombro. O amor estava em espanhol contemporâneo e meu latim adaptado não conseguia deixar de dizer, saudade, saudade infinita de você.
Claire acordando para o café. Ninguém deveria ter esse direito. Acordar mais bonita que os raios de sol, mais ampla que minha própria respiração.
Claire cheirava a tudo o que eu queria. Nomenclatura inventada: la clé de tous mes choix. Fosse mais dramática a forma como ela me estampava a beleza de uma civilização inteira em seu sorriso, era capaz de dizer-lhe, na mais dedicada psicanálise de libertação, ma naissance, ma mort peu.
Sem sombra de dúvidas a melhor maçã.
Degustada sob a choupana perdida de uma cidadezinha no interior da França. Tudo me dói quando não tenho. Mas Claire não me traz dor nenhuma. Basta ser um pensamento.
No trem, perto do mato, na esquina de uma mansão na Covilhã. Mais além, nas galés estacionadas dos navios descobridores do Porto. O cabo da Roca. As lembranças de Pessoa, chorando ardentemente o amor que supunha estar naquilo que lhe caia impregnante dos punhos, pela ponta da pena.
Nascido brasileiro, um africano na pensa, português de veia e ancestrais.
Meu nome, o nome de outro. Uma pronúncia que nunca deixarei de ter. Estava com ela. Ao pé da viajem sem volta de um amor que cruzou oceanos, durou séculos dentro dos anos e extirpou-me uma costela para ser o início de outro homem.
Um outro homem que ao pé da serra nevada, de nome Estrela suspirava a bravura de tê-la trazido e já imaginava como seria ter de dizer-lhe o fim. Por que, além de tudo o que se passara, os nomes imortais que agora tomavam chá das cinco nas lembranças. Aquelas mulheres que já estavam. Não mais que ela. Isso jamais. Porém presenças concretas de uma seiva e substância inegável. Acordes somente das serenatas silenciosas em que se montava a pergunta que ela fizera com tanta propriedade: por que és assim?
Seu nome não seria meu. Meu nome não seria de seu filho.
Polacas, inglesas, gaulesas, francesas, mouras, portuguesas, espanholas do centro ou granadinas impressionantes erravam em mil versos e quilates e afluíam das palavras novas que eu aprendera apenas durante o caminho. Não como pouquíssimas coisas que podiam ou não podiam ter tomado parte de minha vida. Mas como as criações febris que possuiriam para sempre um pouco do que era meu. Daquilo com que me formulou Deus ou quem quer que tenha sido.
Bati uns segundos. Levei uns murros. Abri as portas erradas e o roseiral da minha infância ainda me trinca tardes a espera do além.
Meu punho serviu tanto para bater, como para defender e instruir as linhas com a pouca salvação que aprendi. Nada há que eu possa falar de mais. Arrepender-me.
Por que és assim? Ela sempre quis saber. Acho que eu também.
Talvez seja uma condição digna de compêndios ou tratados de patologia corriqueira. Doencinhas de menor calibre que não cabem nos orçamentos governamentais para serem extintas de uma vez.
Quem sabe seja uma farsa, uma mistura dela e minha por um ângulo unicamente alcançado pela vida que tivemos juntos.
Bater e apanhar. Correr e viver.
Assim, sem compreender ou responder, por que és assim, prefiro seguir. Lembrando que houve outra pessoa que perguntou. Uma pergunta quem sabe pior. E a resposta foi assim com a mesma importância com a qual nasce um romance ou se conhece a primeira cicatriz no corpo da amada. Quero tudo quanto me queira. A vida só tem um round baby. J.M.N.
Um comentário:
Lindo!
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