Há muito que o acaso puiu as tramas das desculpas dadas pra que os dois, depois de tanto tempo, estivessem frente à frente. Mesa de uma padaria.
Território dela, uma cidade cujo nome fora dito, há uns anos, como uma fuga anunciada.
Pra ele, em devaneios, o lugar nunca passou de uma reunião de praças e
igrejas e da morada de uma mulher cuja alma carrega as marcas de um amor sem
freio.
Pela força que usou pra assoprar o café, ele descobriu que
ela não tinha pressa. O tom da voz ao falar com o garçom lhe fez pensar que
seus dias de agonia mensal já se avizinhavam. O pedido... sim, ela estava
preocupada com o peso – sempre o excesso de bunda e coxas.
Esse conhecimento prévio, assentado em gestos e cheiros,
chegava-lhe mesmo que a contragosto. Era como um dom que ele possuía, mas que
só usava quando na órbita daquela mulher.
Ele vinha com todos aqueles vazios enfeixados nas mãos tomando o
lugar de um buquê. Gentileza discreta que aos dois apetecera em demasia.
Conversaram sobre o amor, o deles, seus saldos e dívidas. O que
teve fim e o que restou inconcluso. Foram em cima, foram embaixo. Concluíram que
uma fração de todo aquela ânsia de entrega sobrevivera. Incômodo. Franzino e
irrequieto, como o filho que uma vez sonharam ter. WDC
Um comentário:
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer."
Luiz Vaz de Camões
KRS...
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