quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dez Encontros I



Há muito que o acaso puiu as tramas  das desculpas dadas  pra que os dois, depois de tanto tempo,  estivessem frente à frente. Mesa de uma padaria. Território dela, uma cidade cujo nome fora dito, há uns anos, como uma fuga anunciada. Pra ele, em devaneios, o lugar nunca passou de uma reunião de praças e igrejas e da morada de uma mulher cuja alma carrega as marcas de um amor sem freio.

Pela força que usou pra assoprar o café, ele descobriu que ela não tinha pressa. O tom da voz ao falar com o garçom lhe fez pensar que seus dias de agonia mensal já se avizinhavam. O pedido... sim, ela estava preocupada com o peso – sempre o excesso de bunda e coxas.

Esse conhecimento prévio, assentado em gestos e cheiros, chegava-lhe mesmo que a contragosto. Era como um dom que ele possuía, mas que só usava quando na órbita daquela mulher.

Ele vinha com todos aqueles vazios enfeixados nas mãos tomando o lugar de um buquê. Gentileza discreta que aos dois apetecera em demasia.

Conversaram sobre o amor, o deles, seus saldos e dívidas. O que teve fim e o que restou inconcluso. Foram em cima, foram embaixo. Concluíram que uma fração de todo aquela ânsia de entrega sobrevivera. Incômodo. Franzino e irrequieto, como o filho que uma vez sonharam ter. WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer."
Luiz Vaz de Camões


KRS...