Sou teu de um tanto
que quando corto as unhas
faço como quem afia a lâmina
que revelará os teus confins.
Cuido dos pelos e dos cheiros.
Premedito o esquecimento dos cotovelos
só pra produzir a tua implicância,
pra que digas que tenho que me cuidar mais
e ofereça os teus préstimos.
Não te parece lindo
que todos necessitem de alguém
para se ter a si?
Por isso sou teu esse tanto.
E tomo banho como quem lava a casa
pra chegada da dona
E corto o cabelo como quem capina um quintal,
recanto de estar alheio ao tempo
E guardo lágrimas num potinho
que te envio por um conhecido
junto com um recado:
"Aqui quando chove
faz um frio maroto
que só aquele abraço de noite inteira
é capaz de extinguir"
E despacho o embrulho
imaginando que tingirá de verde
o teu olho alagado de saudade.
WDC
3 comentários:
Meu encanto.
KSR
Adorei!
Sempre quis poder escrever poemas, mas quando escrevo depois tenho vergonha de mostrar a outras pessoas, e nunca sei se sou boa escrevendo ou não.
Mencionei que escrevia a uma vendedora de oculos de sol a semana passada e se mostrou muito interessada.
Cara, acho que fui sacana em ficar tanto tempo calado sobre este poema.
É lindo. Métrica e lírica perfeitas e mais, laminoso até a última sentença.
Fere, constrange, arregaça.
É tu no estado de graça de quando escrevias os poemas para um teu futuro livro.
Deves continuar.
És de novo o poeta inconcluso que conheci.E é agora que o mundo precisa das coisas que dizes... Nessas e em outras linhas
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