sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pra quando a dona chegar

Sou teu de um tanto
que quando corto as unhas
faço como quem afia a lâmina
que revelará os teus confins.

Cuido dos pelos e dos cheiros.
Premedito o esquecimento dos cotovelos
só pra produzir a tua implicância,
pra que digas que tenho que me cuidar mais
e ofereça os teus préstimos.

Não te parece lindo
que todos necessitem de alguém
para se ter a si?

Por isso sou teu esse tanto.
E tomo banho como quem lava a casa
pra chegada da dona
E corto o cabelo como quem capina um quintal,
recanto de estar alheio ao tempo
E guardo lágrimas num potinho
que te envio por um conhecido
junto com um recado:

"Aqui quando chove
faz um frio maroto
que só aquele abraço de noite inteira
é capaz de extinguir"

E despacho o embrulho
imaginando que tingirá de verde
o teu olho alagado de saudade.
WDC

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu encanto.

KSR

Anônimo disse...

Adorei!
Sempre quis poder escrever poemas, mas quando escrevo depois tenho vergonha de mostrar a outras pessoas, e nunca sei se sou boa escrevendo ou não.
Mencionei que escrevia a uma vendedora de oculos de sol a semana passada e se mostrou muito interessada.

José Mattos disse...

Cara, acho que fui sacana em ficar tanto tempo calado sobre este poema.
É lindo. Métrica e lírica perfeitas e mais, laminoso até a última sentença.
Fere, constrange, arregaça.
É tu no estado de graça de quando escrevias os poemas para um teu futuro livro.
Deves continuar.
És de novo o poeta inconcluso que conheci.E é agora que o mundo precisa das coisas que dizes... Nessas e em outras linhas