Hoje percebi que os anos já te pesam como segredos de
ex-amantes. Que contas histórias com nitidez de detalhes: a renda do teu
vestido de casamento, o nome dos teus netos legítimo e dos contrabandeados por
essa tua descendência sem freios. Narradora trabalhada nos preciosismos, mas
que não lembra pra quem contou as histórias, repetindo-as como quem quer se
eternizar.
Afumentar, jejuar, catar, alinhavar, cerzir. Esses verbos
que, de tanto uso, só a ti pertencem. Dos tempos anteriormente a nós mesmos vão
saindo psicologias que nos explicam a todos.
Daí de casa nos observa, rainha, como formigas morcegando a
perdição.
Esses filhos teus. Já obraram coisas que mais se assemelham
a oficinagens do capeta. Mesmo assim nunca abriste o portão desse vazio pros
crentes que batiam. Te reservava às novenas e Deus te obedecia (ai d’Ele!).
Quando salvar era a tua súplica, ele acorria. Quando era para o Bem trazer e o
Bem deixar, Deus operava bonitezas de não poder. Inclusive na vida deste um no
que a tua demão parece que já se desbota.
Mas não. Não te ponhas em engano. Eu cheirava os
livros do Zeca a te buscar, essa tua ternura que eu fingia ser pra ele sendo
pra mim.
Queria teu olho abandonando a máquina e rebrilhando a
avivamentos como quando eles se fecham na roxura do açaí. Queria tua mão
pintada e o teu cabelo, mais uma vez, vermelho. Poder te dar uma última chance
de reveres os teus sete erros como quem mira sete versos, e não encontra um
poema. Queria essa tua liberdade de viver apenas pra quem se ama. WDC
3 comentários:
Wagner, Wagner...sempre me fazendo choramingar..o que todas as maes gostariam de ler.
Sara
Belissimo texto... choro facil, alma inundada por valiosas historias de familia. Recordar.
:) É o que me fica depois dessa "boniteza" em palavras que percorreu emoções e imagens minhas! Namasté!
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