terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Outro desejo


Senhora, tenho caminhado com ligeireza entre uma tristeza muito antiga – um banzo – e uma saudade aliviada. Por todo esse itinerário pousa um musgo escorregadio que é a seiva dos dias em que foste minha e eu fui teu. A época do ano corrobora uma certeza: eu não pareço mais comigo. Nas redondezas de ti eu ganhei um nome e quase um sobrenome. Fui de terreno baldio a apartamento em chamas.

Uma estrada assim, vazia e cheia de rastros de pneus e passos, coloca as gentes em desespero, tem vezes. Hás de entender um dia: tudo, pra mim, é viagem de volta. E, se voltares desse teu próximo retorno, tenho um pedido:

Lembra um tiquinho de mim, como quem recorda de uma febre pegada na infância e que, aumentada a gravidade pela preguiça de ir pra aula, serviu como doença de ficar em casa. A tua mãe não reclamou, por seu turno, de que observasses os cuidados que punha em cada tempero da comida que esperaria o teu pai. Como dobrava zelosa todas as roupas dele e como ficava feliz quando já faltava pouco pro meio dia.

Podes fazer isso? Lembrar o tanto que uma febre foi capaz de te ensinar sobre o amor? WDC

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto.
Apelo esperançoso de quem ama.

Bom dia!

Anônimo disse...

Saudade aliviada é?...rsrsr

KSR