“É noite. A noite é muito escura.
Numa casa a uma grande distância
Brilha a luz duma janela.
Vejo-a, e sinto-me humano dos pés à cabeça.”
A Noite É Muito Escura, Alberto Caeiro
em Poemas inconjuntos
Não quero eucaliptos no meu banho quente. Nem esfoliantes ou coisas de cuidado, riquezas não quero, as possessões de minha pele. No ato, quero tocar e ir. Ir até os confins do mundo é o que eu quero. De lá para o sono, um pulo, e deste para a alegria, uma única imagem, a imagem da tua forma torturando minha espera em lindas saliências. Não quero contrastes sutis, nem esperanças morrendo, lascas da árvore dos meus genes ou dos teus, nosso dilúvio arcaico, não quero. Estou apto para revirar noites e esperar a poeira sentar sobre teu colo moreno, dormindo e se transformando em areia para castelos. A água os lamberá, nossas terras, teu raciocínio tão pronto e irredutível. Não arderá a pose para os retratos, minha postura, minha guia que não condiz com a tua religião não verá impiedades. Tua mãe preta assobia bênçãos e eu as elejo com a firmeza da entrega. Faço parte dos teus. Estou perto do achado, uma memória, meu melhor romance. Quietudes podadas, bocas serpentes. Não as quero. Não quero o mel duvidoso da paridade, do que só é igual quando me anulo. Semelhança impossível. Quero ser o que pretendes e até onde eu possa te seguir que quero ir. Quero esse rumo incerto para dentro do tempo e de mil álbuns com as fotos seletas de nossas aventuras. Quando chegar a noite e andarmos por ruas absolutamente desertas e escuras, começarei a te contar nossas histórias. Todo o horror passa. Passa inclusive o frio que por ventura caia. Em carne e ossos e urgência, encontraremos o fim para qualquer escuridão. J.M.N.
3 comentários:
Entre o nascimento e o túmulo raras luzes dissiparam a escuridão. O ato mais alto é até outro elevar-te.
Sofremos de inadaptação ao mundo.
Teus escritos, um canto de resistência!
A dois, a luz é mais intensa e verdadeira! A escuridão se afasta e abre caminho pra algo sublime! : )
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