Hoje
é a simplicidade de começar e acabar as coisas o que me comove. Me engulha e
enriquece. A simples fechadura trancada e a porta envernizada com minhas
próprias mãos são os troféus. Finalmente minha parede azul para acalmar o sono e
a forma de pão caseiro para que eu cozinhe trigo em casa e possa, como o poeta
antes de mim, ofertar meu pão ao vizinho.
Hoje
o que é dourado apenas brilha, o que é de Marte é menos espantoso e as
novidades cabem dentro dos cinquenta centavos, no troco do ônibus. A menina que
me pede a quantia para me dar um sorriso e corre num abraço que vale mais que
mil palavras. Uma heroína imperdível na esquina dura da cidade. Essas coisas de
vida sem sentido e que estão por todo o canto. Talvez, justamente, por serem
simples, andam tão esquecidas.
Hoje,
portanto, eu acho que sei quem sou. Dormito depois de amar. Acordo sem abrir os
olhos e chego aos lugares entre os últimos e os primeiros. Apenas mais um.
Apenas chegado. Cada marca de ferida é uma corda. Cada parte de mim um
instrumento. Toco meus rasgos e componho a melodia do meu tempo. Sem mais
querer adotá-lo como único. Sem mais querer engolir o mundo inteiro. J.M.N.
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