segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Quarta de cinzas

A gente sambando passa
Sob a janela de casa
Dá na boca o sal dos anos
Lembranças de festa e milagre
Eu vi no cordão lá de fora
O corpo sangrado da história
Cantada, invertida ou nenhuma
 
Uma negra lindíssima e nua
Nos ombros de homens mascarados
Nada fazendo a muda-la
Nas redes prendendo-a, destino
Deixando suas marcas na pele
Trazendo de volta os suplícios
 
A gente que passa sambando
Sob a janela de casa
Me dá a ilusão da esperança
A alegria do povo de África
Sou parte dos homens nadando
Na corrente da história contada
Quero, entretanto, o silêncio

A história secreta da farra
Quero as cinzas de quarta
A benção da manhã liquefeita
Quero a nua e negra memória
Do que fomos e esquecemos
 
A gente que passou sambando
Trazendo minha história nas veias
Peço as bênçãos aos tais mascarados
Perdoem-me, não os sigo há tempos
Eles que do longe da estrada
Deixaram à porta de casa
O samba de tantas saudades

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