"Por que as coisas se arrastam sobre
Cantídio - Do livro dos artefatos do nada
A toda hora me venço.
Sou um punhado de coisas ínfimas feitas de um homem, carne e entranhas amedrontadas,
mas certas de que seria uma estupidez fugir do desejo. Enseada tormentosa em
plena solidão. Ao que vejo, meus prêmios, minha comida, meus alimentos, tanto
adoçam quanto amargam. Corro ao redor como se fosse uma olimpíada o que sinto.
Arcos, flechas, fogueira e vitórias. Em quantos anos poderei contar meus
senões? Por hora a quilometragem vira. Assusta um punhado especial de pessoas.
Mas vou saindo daquela prisão de pó e minimalismos. Arco com as coisas por onde
estou e escrevo. Impiedosamente arriscando sempre o dobro. As contas estão
altas. Violetas e pastiches me atraem igualmente. Quando sereias e melros virão
ao encontro? Sei que a queda e a escultura que me fizeram doeram igualmente.
Vou sobre a ponte, rindo da risada afetada que o destino me dá. Sobre mim um
luar imensamente amoroso e déspota, concomitante. Sob meus pés a madeira que me
sustenta e as águas turvas do rio. Se cair – ou quando cair – espero os peixes
cardumes fazendo vertigem, me levando em nacos apetitosos. Nadarei de costas
sob o luar. Vou me encontrar com a menina que me perguntou quem eu era e, com
isso apenas, recebeu de volta o amor de duas ou mais vidas. J.M.N.
Para ler escutando...
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