Não te vejo nas cinzas espalhadas na mesa. Não estás deitada em meu sofá. As coisas que ouço ao teu respeito são mais ilusões auditivas que realidade. Ouço-me, portanto, a dizer coisas sobre ti. Coisas que nem sempre são boas. É esta ausência. Sentido aludido quando não estás, porque não sei nada de fato sobre ti. Invento. Inventas-te ao longo do nada que sei. Em razão de não estares, crio um tempo instrutivo, minutos e horas de informação e verdade. Vão passando a me dizer que te quero, que não devia ter partido. São meus instrumentos de saber e punição. Descubro-me entre as palavras de Pedro Paixão, entre as fotos que tiramos desde o mirante de Santa Clara onde fiquei. Sim, foi lá que me perdi. Meio homem, meio bicho. Impulsivo a desbridar teus lábios, tuas vergonhas, tuas defesas. Por não te ver eu pinto corais com tuas tintas. O mar entre nós é um braço do rio de minha terra. Vou aos nados se precisar. Senão desatraco tua jangada e peço-te, pela última vez, para ficares perdida por minha causa e alegarei nada menos que amor e brevidade, natureza e quietude. Enfim, tudo do que foram feitas nossas noites e as inúmeras tardes que defendemos lado a lado nosso silêncio comum. J.M.N.
Um comentário:
E P. Paixão dir-te-ia:
"Queres saber quem sou? Eu sou o que te olha e espia para te recolher e depois guardar num lugar que é só meu. Para isso serve o papel. O resto não precisas saber. Nem convém. Só te ia distrair, podes crer. Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida para sentir a minha a voltar."
(Muito, Meu Amor)
Postar um comentário