Vim aqui não sei razão. Certo que algo me força, cutuca. Acho. Uma noite como a qual, não ando por ai. Dá frio só de pensar o mover dos dedos.
Mas hoje me deu de fazer isso.
Coração em dois, batendo, chutando. Meu peito é pura pergunta.
- Quando posso deixar que venha? Esse não tenho ao certo que me eleva? Esse nada que ao receber meu grito me viola de tanto silêncio?
Mais não sei. Ou não posso.
Que quando perguntei a mim mesmo, durante o banho de mar dias atrás, eu tive a impressão que podia ser coisa de uma saudade que guardo em muitas gavetas. Por onde vejo, saudade não força a gente cair na rua. E ficar parado. Endereço alheio. A noite forçando uma vida que não é mais nossa.
Mas se não é saudade é pensa.
Ou mais grave – querer.
Alfinete púrpura no centro do que nos ata à nossa história. Que quando se acha estar livre, mais preso se está.
Então eu estou aqui por querer.
- Mas querer de quem e quanto? É o que me pergunto.
De em redor recolho a fina e cheirosa paciência do destino. Perfume de quem se achegou de esperança. E mesmo não sendo o caso, a calma com que um ato íntimo se transforma em feito, tem esse poder inquietante, mas tranquilizador de deixar um bem em vez da dúvida.
No que penso nisso, cessam os chutes, as ínguas.
Sou pleno e solto como antes do desatino.
Estou aqui, aveludando a palavra ontem com presenças.
Vejo aquela que me trouxe, finalmente. E compreendo.
Ela entra certificada de que ninguém a espreita.
Sinto o vilão que me socorre de um mundo reto e sem alegria. Vilão de menor calibre, como vô Capitão que andou nu, cidade adentro, pois foi preso assim banhando-se do rio em frente.
Ela chega a casa sua. Insuspeita. Então entendo.
Estou aqui por um chamado.
Do mesmo silêncio que me grita quando pergunto sobre tristeza, desesperança e finitude. Foi o termo de o destino dizer – viveste! Ei-la prova.
Dou a partida no carro.
Abaixo de mim sua potência mecânica gira o mundo.
De minha vista entusiasmada ela saúda.
Acena, mesmo sem gestos, à minha presença – que desconhece.
Em feliz me visto, rumo ao fim do dia. – Terá mesmo esse meu íntimo levado a ela?
Se sim, deixa-me claro que existo. Se não, fica a memória como prova do havido.
Confio em cada qual com veemência, como alguém que atravessa a cidade durante o frio, apenas para saber o que nos move em segredo. J.M.N.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Sobre o que nos move
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