Ah esta premissa de sofrer por amor. E tanto. Tão severamente que há no rigor dessa dor tanto mais de disciplina e inconsequência que de realidade ou desejo. Amor em si não dói. E, se nos opera, anestesia. E se nos esquarteja é apenas depois da morte. Da sua morte. Ou de uma deixa calada na cena. Após acabar o enredo e todos ficarem pasmos com o fim da trama. Quem chegou primeiro protagonizou as melhores falas, os versos, o frescor com que a história se desenrolou por sobre as peles. A fala demarcada de mais nada, senão alegria. Aquela folhagem espessa de antes da primavera varrer o que restou da outra estação, não cabe. Assim é que amar não compreende a podridão de vastos campos de folhas mortas. Amarelo sépia. O passado do amor apenas vem se convocado, pois quando acontece é naquele estado de intensidade e pressa. E tão depois de passar, seus rastros sussurram descontos aos maus pagos deixados. Há lugar para sombra. O sol da desgraça ou o breu da solidão noturna desaparecem por uns instantes. Sequenciado nos secretos tomos de nossa história. O amor contrariado, ferido, oculto ou desgraçado, emerge. E se nos pega na segunda feira mais desastrada de nosso trabalho, quem sabe na última hora do prazo de entrega da mercadoria. O amor desacelera o passar do tempo e se encaixa. Enquadra tudo. E se deixa humildemente num dos cantos da casa. A casa corpo que o serviu. A casa teto que o salvou da chuva. A casa abrigo que dele depende para continuar a proteção, contra todo o mal do mundo. Contra todas as vezes que usamos o seu nome para chamar um ódio qualquer. J.M.N.
Um comentário:
Seduz. Excita. Devora. Executa.
Breve sequência amorosa.
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