para um de meus personagens preferidos
Eu te quero. Mas antes eu tenho de inventar uma porção de caminhos elementares ou estupidamente complicados para te provar. Eu te devoto uma porção enorme da minha inconsciência, pois a parte acordada do que penso já não dava conta. E para isso passei um deserto, dois infernos e a gruta frequentada por aquele antigo filósofo de que me falaras para explicar o medo de ser, lembra? Eu te cultivo como a última orquídea anã de um jardim inteiro de flores raras que se despedaçarão quando eu passar correndo pela saudade e for me instalar na estufa em que elas nascem. Entretanto, sou demais eu mesma para notar que fazendo isso, mato mais possíveis nascimentos e alegrias, por mínimas e delicadas que sejam, abrindo de fato as gavetas intermináveis do que não suporto mais guardar, e grito a plenos pulmões que sinto a tua falta. Sim, eu te odeio o amor eterno de alguém que espera o mesmo reconhecimento que dás a todos ao meu redor e não à indiferença clínica que te convence ser melhor estar livre do que ao meu lado. Mais que isso, eu protagonizo todo tipo de cena medíocre, de trama faminta, de novela mal feita, apenas para repetir que te magoarei por todas e tão medonhas vias do desespero ao acinte, da infância com suas totalidades até a velhice extrema da morte, apenas para que me sorvas de qualquer jeito, para que consideres parte deste teu mundo imaginário e plúmbeo, do qual só tenho notícias, por teus incontáveis amores romanceados. J.M.N.
Um comentário:
Uau, o texto é um soco no estômago... Mas o que significa o título?
Joyce
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