Para ler escutando...
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Esse tempo que é depois
Hoje é
depois de nós. Quem sabe o que vai ser? Uma benesse, uma desgraça. Polainas e memórias
espalhadas pelos porta-retratos. Tudo fora de ordem, porque hoje é depois do
que fomos. E a bagunça oriunda desse simples fato é como uma guerra recém-acabada
no meu coração. Nem presente nem passado. Apenas derrota e sangue em todo
lugar. Estamos dentro da garrafa? Ou sou apenas eu me endereçando errado mais
uma vez? Tiro por mim o que eu queria que sentisses e nessa, vais conseguindo
ser mais tu. Do que eu. O certo é que o dia raia, a morte se achega, as coisas
são como são e eu quero tudo de volta. No rastilho do que acendemos. A náusea,
a fedentina de nossas brigas. O gozo. O Cuspe. O choro. Por tudo e todos com
quem acabamos eu quero a honra de poder dizer mais uma vez o teu poema em voz
alta. E acabar cansado e tonto em meio às rimas. Quero a tralha toda que
juntamos. Especialmente nós dois. Hoje é mais um dia do que não cometemos.
Estamos ilesos? Vai ver que passa. A hora passa. A ferida passa. A passa (uva)
é comida e adoça um pouco minha boca com saudades. Mas isso não. É tudo teu. E
foste minha. Foi tudo nosso. Confusões. E digo isso passando a escritura do que
não tenho. Meu destesouro. Minha arrogância em achar que somaria muito mais
pontos se te tornasse o centro do meu universo. Rodavas sobre um eixo que eu
não compreendia. E não podia compreender, pois minha astronomia desajeitada te
entendia unicamente como estrela. Um corpo celeste, cheio de luz, entrementes
desabitado. Mas acontece que uma imensidão de espécies morava em ti. Fui dos
últimos, o primeiro. Antes de entrar em colapso. Hoje é depois de nós, eu
aviso. Que mesmo deselegante, mesmo tosquiado, depois que me soltarem pelas
infrações acumuladas, eu volto. Para te tocar primeiro os seios em manga, as
mais rosadas coxas, a densidade macia de teu vértice castanho e ralo. Volto
bandido e indigente procurando a cura pro que restou. Depois de nós é o catso! Tudo
ainda me acomete. A perfeição da dança naquela chuva de dois dias. Tua rosa
tatuada. Andar sob o céu de quatro cidades com teus braços me guiando. Anda
tudo muito tramado, diminuto. Quieto feito um quarto sem pessoas ou som. Anda
tudo ardendo como as questões que não respondemos e no meio de tudo, meus anos
se passando e as linhas acumulando na mesma página. Porque não sou desses de
querer de menos e pedir permissão. Vou-me aproximando com essas confissões e
cartas. Fincadas na palidez de um dia sem nós dois. Iníquo, anestesiado. Sem nervos
fervilhantes ou retesados. Inferno mesmo é não sentir mais dor alguma. J.M.N.
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