Pros amigos
que fiz em Recife, em especial
pra Fernanda, minha amiga invisível e distante
Saúdo aqueles que tornaram essa cidade navegável.
Domesticado o mar pediu licença à terra e se acomodou à paisagem. Éramos vinte
e tantos solitários, trajados com o peso da falta que as raízes fazem. Pisamos
aquelas pedras seculares a buscar um no outro um improvável cais. Encontramos
vazios, horizontes e ruas com amarelinhas quase apagadas. Muitos redescobriram
o galope do coração a bombear sangue para as veias mais antigas. Eu revi o
verde obsceno do mar e quis morar naquela árvore rosácea e alta. Ou me tornar
alguma janela de Olinda. Aquele outubro tinha dons de eternidade. Nosso
itinerário era pro rumo do que nos enrodilha e salva. Mal sabíamos que essas
coisas minerais e essenciais não se dão à flor dos percursos. E novembro se
avizinhou. Forçamos um sorriso e olhamos pros próprios sapatos a odiar
secretamente o tempo. Enganchados. A hora dos acenos não precisava ser tão
dolorida. Mas foi. Muito. A cidade fazedora de laços intrincados mostrou-se
tecelã de incômodos vazios. Virou ímã, virou bússola. Norte dos afetos e
passos. Foi pra isso que essa cidade nos engoliu. E pronto. wdc
Recife, 2014.
2 comentários:
As palavras, na minha opinião, tem o poder e a magia de, tanto fazer viver quanto mortificar, estas sem dúvida fazem VIVER.
Iris M
Lindo!
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