Agora é só esperar que ela venha.
Trazendo nada menos que as peras de Lion e sua interminável irreverência sobre
as merdas que o Wood Allen escreve. Sambinha no mp3 player e as conseqüências de
uma puta dor de barriga. Ela finge estar inteira e eu rio da minha
quilometragem. Vamos nascendo. Quando chegou só dei por ela depois de quinze
dias, tão natural que ela me faz parte e seu lambido é o mesmo que a chuva do
meu verde domínio. E percebo feliz que a pele dela me ensopa, que as unhas dela
me arranham e que a comida que eu detestei, na verdade, era a boca dela se
deliciando sobre a minha, uma mistura doida. Fertilizante. Isso é que somos.
Saem plantas de dentro da gente depois dos meses, saem frutas. Tulipas, papoulas
e calêndulas. Adoro dizer esses nomes. Todos a representam. E passo a escrever
idiota sobre o silêncio que fere, sobre a gaze do meu curativo que escapa. Furo
meus calos. Adoro os prazeres matinas de tê-la entre meus dentes. Carnívoros e amáveis,
como só dementes podíamos ser. A sintaxe me falha. O verbo zera todas as ações
e eu me fluido. Vou sangrando das dores dela, entre parênteses. Escrever assim
só a quem sente. Escrever como se sente só a quem a dor prestou serviços. Não
fosse ela minha retaguarda estava fodida. Meu dorso, meu tempo minha negra
orixá, morreriam. Mas ela presente, sento como um rei. Namoro a pálida
constituição dos avessos de maneira infinita. O que sai? Essas letras. Anátemas
do pouco que tenho, do muito que a vida já me deu entre seus beijos. E fico
simples. Passável. Instrumento para qualquer coisa que não tenha peso ou
sentido ou mesmo, sequer, signifique algo nas palavras dos homens. J.M.N.
Um comentário:
Simplesmente delirante...me faz lembrar Carlos Ruiz Zafon em seus livros maravilhosos!
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