terça-feira, 10 de julho de 2012

Império

Eles me disseram vem. Vem a nós com as próprias pernas, teus estranhamentos. Vem encarregado dessa coisa utilíssima que é a tua graça. Resina a unir nossas pontas soltas. Carrega outros quantos quiseres.

Eles estavam às portas do meu futuro, por onde entrei e finalmente encontrei a cama feita, meu suspensório da infância, minhas fotos dentro do circo, com muitos palhaços e seus malabares. Nenhuma das minhas roupas seria descartada ou se tornaria pano de chão.

Encontrei no calor de sua recepção a distante paz dos afastados, dos que se pedem por toda a vida, mas não chegam nunca a si mesmos. Eles. Feitos de cedro, cheirando a milênios e fazendo as mesmas imensas coisas de cuidar que faziam no vale das almas, antes do tempo. Amplidão sem tato que é o olhar daquela gente. Um universo inteiro em seu sorriso.

A gente de um presente mais que humano, a vencer o medo de se apegar fácil. Emprestam suas redes. Cedem seus quartos e penhoram a tranquilidade do sono para que eu esteja. Essas pessoas monumentos que não fazem abrigo, pois são abrigo. Sob quem eu felizmente esqueço a minha dor.

Aquela gente de um templo antigo, cuja reza, além da cura, traz a harmonia desejada desde o ventre. Gente que empresta seu Cristo não por caridade, mas por respeito. Gente sem a qual, certamente não haveria sentido em proclamar esperanças, afundar-se num abraço ou seguir adiante. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Essas pessoas monumentos que não fazem abrigo, pois são abrigo. Sob quem eu felizmente esqueço a minha dor. [..]Gente sem a qual,certamente não haveria sentido em proclamar esperanças, afundar-se num abraço ou seguir adiante".

Esquecer a dor. Aninhar-se para fazer sentido e não sucumbir. Você, esperança remota, que me abraça com palavras.