Esqueço-me de que foi você a inventora do adeus. Tem algo chamando no segredo do lago. Às margens de lá dorme um segredo, um resíduo. De quando me chamavas de cúmplice. Mas agora é tarde demais. Mas posso ver nosso animal abatido sussurrando atrás dos meus passos e da velocidade constante de minha caravana. Partida ou chegada. Caravana de além. E vejo teu sorriso no luar que me engole, como a boca celeste dos mil dias. Maravilhas da noite. Vejo as luzes de cidades inexploradas aonde chego e sou recebido de braços e pernas abertas. Aonde irá esse senão de agora. É apenas comigo que o castigo acontece. Não vem de fora, não se destina a mim, é verdade. Talvez eu tenha uma porção de raiva acumulada. E esse vento desértico parte as palavras do meu amor de agora, que também é de ontem. E é o mesmo de quando eu atendia pelo nome que outros me deram. Agora me chamo eu mesmo e assim fico. Cravado na face. Puxando quem quiser vir e ver. A caravana que segue adiante não mais a minha. Sou passo e destino num mesmo modo operante de ser simplesmente. Dá tua mão. Quem sabe eu me despeço. Quem sabe eu me perdoo. Quem sabe a vida se reconcilia com aquelas nossas aquarelas de ontem. Vale à pena deixar as janelas abertas e a loucura a meio passo da fuga. Se não me dizes mais nada, então é porque a hora já passou. Ou quem sabe, é tua velha maneira de esperar – quieta, viva, vaga, sem propensão para ilegalidades, imensidões. Quem sabe sou apenas eu, inventando coisas para não deixar de pensar em ti. J.M.N.
Trilha sonora…