Saudade daquela sorte que me garantia ilusões. Sem, no entanto, requerer chão debaixo de mim. Agora é só esta realidade soprando morna, suarenta. Devagar e sempre como se houvesse privilégios nisso. Morre o cordeiro. Imolado ou não ele morre. Morre o palhaço, sem graça ou não, morre. A arte fica. Comendo o que restou. A lida com as palavras fica mais ainda. Finca-se no pomar dos sonhos e lá fica. Fica dentro do pote de biscoitos intocados da infância. Ela fica sanando e adoecendo todos os dias. O corpo, a mente, o que mais for. Inquilina das coisas desusadas que nos atormentam e servem apenas para molhar corações e olhares por ai. Artista aquele que falhou em semente. Devidamente recrutado para infinito do outro. Foi-se ele mesmo sem saber-se. Escritor é aquele que não sabe a artista. Não pinta dores cúbicas ou sulcos em óleo. Escritor não torna a luz sobre um brinco, artefato de estudo. Sabe, isso sim, a mão derrubada. A carcaça de alma e caminhão sem boleia. Escritor conversa com tantas palavras que esquece a língua sem sê-la. Língua sem ser. E, de repente. Passa apenas a escrever-se. Dono de mais nada, senão da oração, do verbo em brasa, efeito impensado da escrita – ferramenta de desnudar o que não seja. Homem que serve de tudo, menos de casa, carisma ou sanidade. J.M.N.
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