Duas almas
Ó tu que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
Entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
Vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho,
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
Podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
Alceu Wamosy – Poeta gaúcho que faleceu em 1923, deixando dentre outros magníficos textos, este Duas Almas, em cujas linhas descobri a poesia sulista mais intimista e casta. Do livro Poesia Completa, 1994.
Um comentário:
A literatura prepara-nos para a vida. canaliza o movimento entre o real e o imaginário. Aleita nossos tropismos afetivos. No final da infância, ela nos dota de uma alma. Pelo romance e pelo livro, cheguei ao mundo - Edgar Morin, 2002.
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