segunda-feira, 29 de agosto de 2011

História de um Senhor

risto da Silva sambava como nenhum dos outros, por isso foi escolhido pela escola e pela melhor mulata dessa existência. O estandarte banhado em ouro e azul chegava ficar maior que o céu, tamanha importância dava Cristo ao balançar da bandeira. Casou-se pobre e continuou assim. A mulher apresentando a beleza em todo canto não o abalava. Era ungido pela fé na instituição do casamento e outras coisas mais. O pai de santo do morro, disse-lhe que havia fechado o caminho da esposa para quem quer que fosse. Cristo passou a compositor. A escola ganhou um prêmio merecido e Cristo cantou dois dias inteiros pela vitória. A cada intervalo, quase pregando, dizia que era para todos sambres como um. E a turma se deixava na voz do Cristo. Baita edição de felicidade conjunta aqueles dias. Cristo foi pai de dois. Garnizé do terreiro quando andava com as crias pela cidade. Pendurado no corpo a guia em vermelho e branco que o seu guardião ofereceu. Andava de branco, sempre com o cabelo rente, igual um militar. Quando estourou a confusão no morro o Cristo chegava com seus dois filhos. Deixou-os na casa de Iolanda e partiu para falar com seus amigos meliantes. Foi or um triz que não morreu naquele mesmo dia. Tinha algum respeito. E subiu até sua casa apenas para achar a esposa deitada morta sobre o sangue mais vermelho que jamais vira. Mas teve lágrima. Orou repetindo eu que não sei o que faço, me deixo a ti. E entregou a mulher para ser preparada ao enterro. O Cristo morreu já bem velhinho. Cabeça branca. Cantando samba. Nenhum dia deixou de contar que havia sido escolhido por um anjo. O estandarte foi com o caixão e em cima da lápide onde se escrevera: ao rei dos reis do morro, um pequeno cálice virgem de vidro barato, cheio da aguardente esperada pelos patrões de sua vida aqui na Terra e nos outros lugares em que agora habita. J.M.N.

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