quinta-feira, 30 de junho de 2011

A pena

Acolho teus insultos, teus gritos, tua risada de troça que afirma: jamais serei capaz de ser feliz. Sugo o dulcíssimo liquido da tua bravura, da tua raiva aplicada a este caderno livre de pautas, de nomes, da sofreguidão dos que buscam a reserva dos céus.

Observarei um minuto de silêncio pelo que morreu em ti ou por aquilo que, sujo demais, magoado demais, não consegue ver as asas da borboleta do infinito a passar em meus versos, em minhas declarações mais advertidas de não serem próprias ao saber dos outros.

Meus olhos estão no chão de teus passos, esperando que passes e me vejas sentado, ornando os vincos do cimento da rua com minhas lágrimas mais sentidas. Não saborearei os doces comprados enquanto não passares e sentires que sinto o que vem de ti igualmente. Não.

Minhas costas são tuas para as chicotadas que quiseres. Meu corpo usufruto de tua pior autoridade. Não me importo. Desenha, à lâmina do destino, os traços caóticos do que eu risquei em tua alma, do que eu usurpei das tuas tripas.

Mas antes do fim, pouco antes daquela derradeira agonia por tantas escórias que me atirares, me beija. Usa o único lugar limpo que eu tiver para o beijo de piedade de quem esqueceu e se superou. Se isso for possível, terás cumprido tua missão de maneira eficiente.

Senão, limpa minhas feridas e me serve um chá. Podemos começar tudo de novo. Ir até bem antes do tempo e começar pelas humílimas palavras: meu nome é teu/ o meu é tua. J.M.N.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Contra todo o silêncio da distância

Ela o segurava pela mão. Dentro de mim convenci minhas feras a aceitar aquilo como uma normalidade a quem se encontra numa mesma vida. Assim pude respirar. Ela caminhava, como sempre, à frente do homem. Passos além. Ignorando o arfar daquele mortal edifício já conquistado por sua coisa feminina e feroz. O que não vi foi trabalho. Apenas um gorgolejar de batuques amenos dentro dos dois. Ainda remonto seu universo para o meu espelho. E daí? Não observei aquilo que era tão presente em nós, o músculo teso, a arquitetura do esqueleto, pronta para resistir ao inferno, se preciso fosse. Talvez apenas o amor seja possível. Nós não. E nisso, pensando foi que senti ainda mais. A parada cardíaca de nos encontrarmos no mesmo rebordo do mundo. Atirando nossas flamas aos incautos de plantão. Já sabíamos os sorrisos de todos em redor e ainda queríamos mais. E eu queria dizer para não voltar mais para onde fosse. Pedia a meu corpo controle apenas. Vi que não tinha entre seus dedos agarrados aos dele, a corda invisível que se fiava ao sairmos recolhendo o mundo em nossos olhos por ai. Nossas mãos entrelaçadas eram as redes do impossível. Pescamos sonhos onde havia barbárie, ternura depois de coito e batalhas. Uma semente deixada em nossa pele, fincada está, cheira a saudade. Talvez o verbo não seja nada, não seja de ninguém. Minhas palavras averbam sangue e um pastiche de eternidade além de nós. Além de nós não há razão que vença. Chegamos lá e decidimos do jeito mais absurdo de todos, que não deveríamos continuar. J.M.N.

Cartas a ninguém (28.06.2011)

Querida,

Nessas andanças por sentimentos meus e alheios descobri que a intensidade do ódio explica-se pelo seu nascedouro, o ódio sempre nasce do amor. As últimas palavras que trocamos foram de uma raiva pura e firme, como o choro de um recém-nascido. Notei que quando atacastes o meu caráter, quando questionastes a minha seriedade, quando menosprezastes a minha oferenda, estavas praticando uma forma imprecisa de exorcismo. Precisavas envolver aquelas palavras com arame farpado pra justificar as tuas chagas mais doloridas. Além disso, precisavas que eu respondesse por feridas que carregas desde que descobristes a dor e resolvestes te enlaçar com ela num abraço que julgas vital, vitalício talvez.

Nesse ano que se passou desde a nossa última conversa eu não tive um sonho que não fosse pontuado por pesadelos de culpas presumidas e expiações impossíveis. Aquele minuto a mais que eu poderia ter ficado com a tua cabeça no meu peito. Aquela viagem. O nosso filho. A curva que eu poderia ter inventado numa estrada reta só pra te mostrar que os caminhos quem fazem somos nós. Eu te amei com ternura, sabe. E te odiei até o dia que percebi que eu estava fazendo mal pra mim mesmo. A cólera nos adoece e aprisiona, câmara de gás que construímos com os restos de um amor que não se cumpriu.

Sinceramente, não foi esse tipo de existência que desejei deixar como biografia. Do amor, que nasceu prematuro e viveu tão pouco, algo escapou. Restaram a ternura, o tesão por essa tua oscilação entre a fragilidade e a raiva, o respeito a tua busca por um homem suficiente e que te faça uma morada de segurança e sossego. A minha recusa em tampar esses vazios serviu de argumento pras nossas últimas discussões, lembra? Acho que foi ali, quando se desfraldaram as últimas bandeiras do teu desejo, que começaram as sangrar os teus quereres, que as areias de sonho escorreram no começo de uma incômoda vigília. Foi ali, que nossos dedos se desenroscaram. Foi ali, que nossos batimentos cardíacos entraram em descompasso. Foi ali que algo se perdeu.

Cordialmente,

WDC

terça-feira, 28 de junho de 2011

Meu rosto bêbado

Que é prudência, afinal?
Pergunto aos cuidados da morte
Esquálida lembrança, um bueiro até
Mas não é um horror o que me ocorre
É um ato elevado, suspenso, amoroso
É sorrir de vê-la entrar na igreja
Abençoada pelos seus em votos quietos
Um azul suspenso em bemóis
Canta, canta a comitiva branca que
Me recebe em mil beijos, que me perdoa
De ela ser quem é, de eu ser quem não fui
Ao padre perguntei: quais pecados?
Ainda não os tinha cometido
O azul ainda não sobrescrito na pele
Três ave-marias e nunca mais confessei
Falo agora que em meu nome nasci
Escriba das elegâncias que sinto
Igualmente dos paroxismos que causo
Homem de fé, profissional do risco
Para a Rosa que de seu útero me fez, um beijo
À fratria que me cuspiu e atirou, meu peito
Ainda mais aberto e gritando
Ainda mais sujeito ao amor do verbo
Outro azul silenciando minha voz
Un niño que nasce em meu silêncio
Outra taça em que bebo declarado
Vinho e sustento
Meu rosto de paz nenhuma embebedado

J.M.N.

Trilha sonora…

Liturgia

17Ele é anterior a todas as coisas
e todas elas subsistem nele.

da Carta de São Paulo aos Colossenses

Nossa cidade é mínima. Logradouro de esquinas cumplices a esconderijos. De onde aqueles que desejam se encontrar, aceitam o fato de que muitos olhos estariam olhando o mesmo mapa da procura, caso fôssemos ávidos demais aos reencontros. Dia de missa, ela veio. Já não esperava que aquilo acontecesse, ambos alinhados a esperar comunhões, rezando em silêncios as preces possíveis, as palavras menores que davam para ser lembradas. Ela não estava só. Um breve relâmpago no cenho. Eu também não estava. Depois do susto fiquei quieto. Pensando pensamentos felizes por aquela sua condição. Queria desde sempre que pudéssemos, um dia, estar felizes dentro do mesmo espaço. A memória veio. Com sua estuosa sabedoria de incêndio, de enxame, sobrepujando todas as defesas, arrancando portentosa a realidade da gente e num segundo avesso aos ossos e peles e sentimentos ungidos que me deleitavam nos dias antes, cedi. Cedi ao que mais poderia ceder, minha rota de olhar invadida dela, sem lágrima, porém fios de ouro próprios a labirintos. E a reconheci bem dentro do que eu via e interpretava como o que fora. Toda a escultura críptica de nossas piores e melhores escolhas, de nossas mais vulgares e retintas entregas. E compreendi o que havia passado, apenas o tempo. Minha luz encontrou-a observando a confirmar se era eu. Quem sabe a dizer-se que já não tinha importância, que eu morrera inteirinho dentro da sua felicidade. E este foi meu resgate. Caso vivo, porém indevido, encontro pedras em suas ruas. Se em vez disso, assentado à mesa dos seus banquetes lunares, aquele olhar voltado a mim foi de festa. Finalmente estávamos felizes num mesmo espaço, mesmo opostos, mesmo esperando o pão dos homens, alimentar nossos espíritos absolvidos. J.M.N.

Excertos Terapêuticos

“O que não daria eu pela memória
De ter sido um ouvinte daquele Sócrates
Que, na tarde da cicuta,
Examinou serenamente o problema
Da imortalidade,
Alternando os mitos e as razões
Enquanto a morte azul ia subindo
Dos seus pés já tão frios.
O que não daria eu pela memória
De que tu me dissesses que me amavas
E de não ter dormido até à aurora,
Dissoluto e feliz.”

do poema Elegia da lembrança impossível
Jorge Luis Borges
no livro Na moeda de ferro

Oferenda

“Nunca, si llegan a un sitio,
preguntan adònde llegan.”

do poema he andado muchos caminos
de Antonio Machado, 1934.

Pensei mil vezes antes de te dizer. Não é confissão, que tudo aqui presente, já sabias. Mas nesses dias em que encontro as razões para sorrir e cultivar libélulas, direi assim...

Não és passado, pois não apenas um tempo por onde andei. Devo-te mais desses meus dias de transe e furor do que a ninguém.

Não és menos do que um piano acordando a gente depois de um choro, depois da catarse. Aqueles harmônicos enchendo o peito. Uma obra perfeita.

Não és apenas uma mulher que amei, uma usável. Toda caligrafia do teu corpo ainda tem seguidores dentro dos meus sistemas, ainda orienta meus barcos do além.

Não resolvi tudo como deveria, nem dei sinal de que sofria com teu sofrimento. Mas perdoa mesmo assim meus desafetos, minhas salsadas. O Amor que ainda te chamo nesse ventre escrito, convém que saibas será perpétuo.

Não demoravas tudo o que eu costumava reclamar. Não vieste em tempo errado, nem foste esquisita ao exigir tudo quanto não podia te dar. Era o que esperavas. Era, contudo, o que eu não podia. Não há glória nisso, talvez nem tragédia. Tempo que não era tempo, apenasmente.

Aquilo tudo não terminou em nada. Não se cobriu com o carvão do tempo. Aquele grosso das coisas maltratadas que porventura ainda estejam em teu peito, calha de atirares fora enquanto penso no que dizer para te arrancar um último sorriso.

Não irei de pessoa própria te pedir issos, aquilos. Não irei, em nota, estrear minha desrazão em jornais. Não irei mais dizer o que era para ter sido dito. Te peço essa hora em que debruças teu olho sobre o cristal palavra. Sabe, delas, esses quilates são implícitos, feitos por mãos que não são as minhas, ditas por tantos que subscrevo e venero.

Os mil raios destas coisas que escrevo, quero-os apenas iluminando mais uma vez os teus olhos e depois... onde quer que cheguem, não perguntarei aonde chegaram, pois que não quero endereços ao que sinto. J.M.N.

Amanhã acontecerá além disso tudo

Amanhã não estaremos em uma cidade com praia
Não haverá um sol escaldante
O porto, as dunas, toda a areia assentada, foi-se
Amanhã não realizarei o efeito de tê-la incrustrada
Concha dura, mas perfurada, no chão da praia
Não serei um menino, tampouco um velho
Casas, telhados e as estrelas cantando ecos do mundo
                                                                        não estarão

Amanhã restará essa oca terminada aos beijos
Perfumada de nossas peles nuas e canções aos deuses
Presentes na manhã permanente que se nos veio, amor
em laço, expoente de lagoas, reino dos marechais
Amanhã quando acordar sou mais dela que eu mesmo
espantado por esta constatação riscarei na certidão
Meu nome é o que ela der, aposto o mesmo
Amanhã, quando ela me chamar José serei um outro
Serei além daquele mar, além daquelas conchas,
Das dunas mais além. Serei eu, o ser que é dito
E por isso confirmado nesta existência
A manhã me anda dizendo que serei mais pra futuro
                                                           do que passado

J.M.N.

Cantata

Eu cantava enquanto a via. Segurava os sons da vida externa a mim enquanto naqueles ínfimos segundos olhava sua respiração acontecer bem diante de meus olhos. Um mar de tranquilidade e, ao mesmo tempo, não deixava de confirmar minha admiração obscena por sua existência tão próxima, tão cheirando a requerimentos ultimados de carne e líquidos expelidos. Quando ia acordando eu chiava. Trazia à beira de seu sono as músicas de embalar minha infância. De todas elas extraía um pouco daquela quietude que me fez implorar para crescer perto de quem pudesse me fornecer o mesmo tipo de artefato alento, o mesmo tipo de calor pequeno que resguarda nosso dentro dos espinhos do mundo alheio. Enquanto ela, restante em meu desejo se expandia e passava à condição de amada, eu muito baixo pedia forças para suportar o sono mais uns minutos. Para que não fosse antes de ouvir seu ressonar mais denso. Onde eu pudesse reconhecer que a tranquilidade que a embalava seria a mesma pluma que passaria a estocar para fazer macias as minhas noites dali em diante. J.M.N.

De qualquer maneira

Ela me pedia delicadamente para amá-la. Eu não sabia. Não saía da fúria infantil dos primeiros amores, ou objetos. Espéculos enfurnados na beleza atrás do olhar. Olhava-a, entrementes. Um rio de orações e perdões nanicos, porque sua carne arranhada, sua devoção pelas palavras que passava a repetir enquanto eu estava dentro dela, suavam em bicas, tornavam-se as dinâmicas estrelares da perfeição. Fosse como fosse sairíamos feridos. Presas de inocentes senões e outros nem tanto. Porquanto a coisa que desfazia nossa herança humana naquelas horas era inviável a Terra, era nebulosa em cima de buracos negros. E como pertencemos àquilo. Ouro e vulva e cristais cintilando possibilidades mil. De repente soa um sinal. Uma porta cai. Era a última. Ela se instala naquele cômodo sem móveis de onde eu retiro finais, de onde nascem as personagens tórridas, os pusilânimes de meus romances. Onde, enfim, eu sento e escrevo os enredos da vida. Apenas a minha. Uma a uma as células vão se arrumando. Há mais devoção nisso do que nas partituras, nas letras e melodias. Os harmônicos se arranjam. Passo desta para uma melhor, minha cara triste e rasgada sorri como nunca. Tem outra pessoa no meu quarto de antenomes. Não sei se a chamo pelo nome dela, ou se a chamo de antídoto. De qualquer maneira sei que está lá para me salvar. J.M.N.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Micro romance XI

Acabara a água. Pingo sequer. A tarde era bem maior do que eles esperavam. E o rastro da noite parecia, estava perdido naquele dia. Viajavam para longe. Ser alguém na vida. Mesmo que desse apenas para um, a riqueza querida, ou possível seria dividia. Amores é que não. Cabiam apenas no imaginar agora que a boca estava seca e que a alma guardava as últimas espécies de frescor para que seus corpos não morressem. Paravam muito. Por dentro e por fora. E vinha sempre a pergunta mesma: que fazer? Mas sem desistência possível. Simplesmente deixavam a pergunta ecoar no silêncio da estrada. Uma, duas, três cidades amistosas e então, os tiros. Estavam com os anos montados em seus olhos. Ganharam aquelas expressões de passados do tempo que têm os mortos pelo segundo dia de velório. Era visível que seus cabelos não estalavam ao passar dos dedos. Mais uns tiros dados para cima. Alguém gritava seus expurgos. Maior que o medo da morte era a confusão que ficava por não serem queridos. Não faziam mal a ninguém e, no entanto, acabavam expulsos dos lugares. Demais do tempo naquelas peles que avermelhavam sob a solidão solar do caminho. Morreu um dos cavalos e passaram a se revezar na caminhada e no lombo do que sobrara, pois este estava muito fraco para levar dois corpos. Aconteceu o que não esperavam uma ventania. Um deles perdeu os olhos para o vento e para a poeira veloz que roubava tudo ao redor, inclusive a formas das plantas que haviam resistido à falta de água. A terra, porém, consome tudo. Uma noite que chegou tão tarde que tinha sido esquecida, o mais novo deles, cego e cansado, disse sorrindo: e eu pensava que veria nosso destino apenas ao chegar, mas está aqui comigo no escuro. É o mar Calixto. Vejo o mar em nosso destino. Não sabiam bem porquê, mas o sono veio bem àquela noite. Derrubou os corpos, as saudades últimas, as preces fininhas e a vontade de água. Foi um repouso longo e escuro para os dois. Ficaram por lá naquela noite, naquela noite que trouxe apenas as histórias de dois irmãos. J.M.N.

Malta

Acumulam-se enganos, tropeços, as enervações pelo trânsito lento, pelas pessoas que nos ferem. Existe dentro de cada qual uma razão para o ódio, mesmo o não praticado que, às vezes, rebela-se contra o corpo, causa urticária, sensibilidades, fruições espasmódicas de angústia e claustro. Ninguém cabe em abraços, manhãs assim. O cinza predomina mesmo sem chuva. Anda-se só.

Porém um dia, numa mesa de jantar, durante um telefonema. No acolhimento de novos enteados ou pessoas inversas a você, acontece. Acontece um mundo inteiro de novidades, passagens, apelos e novas organizações. Vêm os convites, os telefonemas em horas além, durante um sono iniciado, mas não trazem raiva, desculpa. Acontecem porque têm de acontecer naquele instante, que é quando nasce o sentir.

Antes só e quase nunca usado, passa-se a nome em bocas que nem nos viram. Nossos seres abrindo-se em carinhos longínquos e de outros templos devotos. Todo Deus espera que isso aconteça ao rebanho, poucos homens sabem elevar essa deixa. De minha parte estou entregue. Pertenço. São loucos que nem eu a acreditar que podem tudo, que são impressionantes apenas por que na vida têm um ao outro. J.M.N.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O que fizeste

Fizeste em mim um universo
Nossa paixão entrará nos anais da crônica dos anjos
Mortos de desejos, mas sem inveja, eles virão
perguntar a nós do que somos feitos
E neste momento, num futuro, creio, não muito distante
poderemos dizer entre beijos dulcíssimos:
Somos feitos um do outro
Somos todos de um só.

J.M.N.

Surpresa em Belém – Companhia MIRAI e o Espetáculo Cinesiofagia Urbana

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Não posso negar: tenho restrições arcaicas em relação a espetáculos de dança. Talvez puro preconceito, baixíssimo conhecimento a respeito da história, técnicas e da linguagem da dança em si. Além de tudo, sou chato mesmo. Exigente demais com produções desta natureza, especialmente em Belém, mas, devo dizer...

... tudo mudou neste último sábado, 18 de junho, dentro do Teatro Experimental Cláudio Barradas da Escola de Teatro da UFPA. Cinco jovens bailarinos de uma companhia que já tinha um trabalho de apoio a outros espetáculos fundaram (sem medo de dizer!) uma nova cena em nossa cidade. A dança de rua contemporânea, da Companhia MIRAI, chegou. Veio para mexer conosco, para incomodar, para assustar, para emocionar, enfim, para ficar.

Cinesiofagia Urbana, primeiro espetáculo integralmente concebido, produzido e interpretado pela companhia MIRAI, formada por Ackson Fender, Angélica Monteiro, Franco Salluzio, Nigel Anderson e Silvia Kamylla, abriu-me um novo universo de admiração e busca, no qual a dança, a fotografia, a poética videográfica e sua fusão com elementos da urbanidade, produziram um território único para sensações e pensares, oportunizando uma sensibilização integral a quem estava presente.

Mais do que uma performance de palco, o espetáculo foi concebido num momento em que, mundo afora, discute-se os destinos das pulsões juvenis, relembrando Freud e a psicanálise, para quem a busca da realização dos desejos pode gerar uma ansiedade tamanha capaz de embotar nosso mecanismo de simbolização e resgatar energias e volatilidades as mais primitivas, ultimando o contato, nessas condições, com atos de violência, humilhação aos que são considerados mais fracos e toda sorte de barbaridades cometidas em nome da afirmação não mais de ideais, mas sim, de posições destituídas de sentido e tão frágeis do ponto de vista da maturidade psíquica que não encontram outro caminho senão o da violência e da depreciação da condição humana.

Assistir àqueles jovens bailarinos-atores e seus deslumbrantes corpos a resgatar ora inocência, ora o peso de uma realidade que negligencia corpos e segue andando, oferta-nos violência gratuita e ao mesmo tempo instiga o nascimento da beleza em meio aos caos, foi um presente. Uma oportunidade rara de ver um novo destino àquilo que, sem controle, investimento ou opção, pode facilmente descambar para a fúria cega e mortífera.

Durante todo o espetáculo não me saia da cabeça que aqueles jovens estavam nos ofertando, a todos nós presentes, uma bela canção pela paz, atualizando o libelo de Paulo Cesar Pinheiro no show de 1976, “o importante é que nossa emoção sobreviva”, em cuja apresentação o artista dizia que aquele era um show do tempo em que o coração valia muito mais. Cinsiofagia Urbana é isso, coração pulsando entre vídeos e sons diversos, uma esgrima muitíssimo bem coreografada entre o melhor de nós e as contradições da modernidade.

O momento em que eles dançam ao som do Radiohead foi espetacular, seguindo-se daquela maravilhosa performance sobre as bancadas em preto e branco. Neste momento, não pude deixar de notar um pouco mais atentamente o talento de cada um dos integrantes, os quais, apesar da coreografia bem ensaiada, deixavam escapar suas idiossincrasias dando um quê pessoal aos movimentos. A direção geral e de coreografia de Franco Salluzio merece aplausos, além da energia estonteante de Silvia Kamylla em cujo solo realmente me emocionei.

Espero que o espetáculo ganhe a notoriedade que merece e que a companhia MIRAI nos brinde com outras experiências e continue brilhando na noite de Belém. Tenho absoluta convicção que eles têm talento de sobra para alçar voos mais distantes. Se assim pensarem, terão sempre o apoio deste canto, o qual além de saudá-los ficaria honrado em entrar na dança. J.M.N.

Aceitação

Meu corpo resulta, expresso em miríades de letras e adornos corpóreos da entrega dela. Mínimos insetos caminhando por sobre. A carne, esta única que me configura, está inteiramente doada. Caçoando do expresso desdém dos fugitivos que buscam no derrubar de muros ganhar o livre de todos os homens sem saber que a liberdade reside dentro de uma respiração perfumada de pertencimento, estejamos em cárcere, estejamos em mar aberto. Este sentido que me é novidade apela. Aos desconformes que ainda se me acrescentam – heráldica e genealogia. Porém, desistentes, eles agora se comovem por estarem errados, por estarem desconexos. Por não serem devidos. Eu rio da loucura que se ancora. Dessa insuspeita radiação terrena que é sua pegada em minha humanidade. Cujo desenrolar descortina caminhos e altera os rumos de minha paternidade, de minha filiação, enfim, de minha ligação com o antes, o depois, o lugar algum. Perpétuo. É o que desejo deste sentido novo que me assume e retifica. É o que espero desse badalo altíssimo que inaugura campanários em meus sonhos. Que confirma o que me diziam sobre o amor e eu, menino, achava que era apenas o toque da grama sob meus pés, a mão de minha ama sobre meu choro, a afirmação dela sobre um futuro muito além daquele cultivo irracional de silêncios. J.M.N.

domingo, 19 de junho de 2011

Sobre as palavras de ontem

Eu te amo. Dito assim, dispensando as honrarias preliminares e os caminhos da simpatia e da paixão, sem deixar escaninhos onde brotariam as entrelinhas. Eu prefiro assim, pra te pegar de surpresa, ainda com as roupas de acordar, sem brincos e sem as desculpas de costume. Sem ao menos saber-se única e sem apelos para os teus panos e solicitações pueris. Deixo, tenso entre a minha frase e o teu ouvido, um silêncio que se arrasta como um bicho de umidade, e que devagar vai nos enlaçando com seus caminhos luminosos.

Podem ser apenas palavras ajeitadas em uma frase já encardida de tanto uso indevido em cartas amareladas e canções estéreis, mas que guarda um frêmito de beijo primeiro dado pelas costas da santa igreja, demasiado ardente pra se usar em qualquer ocasião. Mas eu a usarei sempre que no final de cada espera eu ganhar os teus olhos tingidos pelo dia. Ela sairá da minha boca junto com o cheiro da goiaba e confundida com as tuas poções benfazejas. Direi até o ocaso da linguagem. Até que os desejos olvidados estejam plenamente satisfeitos. Até que as perguntas descansem nos cobertores noturnos que inventarmos. Até que a tua marca me cure da ferida que esqueci. Mesmo assim direi eu te amo, pois tudo que emana de ti, chega-me como remédio e salvação.

WDC

Manifesto do movimento buchudista

A jornalista Márcia Carvalho iniciou esse movimento tão antigo.

Tornei-me seguidor por descuido, inspiração e desejo.

 

Nós do movimento buchudista acreditamos que os inícios sempre cheiram a talco e colônia. Os primeiros buchudistas sempre nascem junto com a espécie e assumem o compromisso inadiável de povoar a terra e se prolongar sobre ela. Apostamos que todo chão é fértil e que as sementes sugerem o próprio arremesso.

Nossa missão primordial é tornar o choro a força dos pulmões; o sono entrecortado um argumento para a paz; a sucção um aprendizado de doação e partilha; o banho um ritual de purificação; o leite a metáfora mais completa do alimento.

Apesar das forças em contrário, apesar do trânsito, apesar da violência, apesar de insistirem que somos sobreviventes, apesar do ataque a quem tem uma utopia como quem alimenta uma inutilidade, nós acreditamos na vida, sobretudo nessas que estão crescendo dentro de nossas barrigas e corações, e que adivinhamos nas ultrassonografias que serão as pequenas guardiães de todo o nosso amor. WDC

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entre nós (ou “A língua em flor”)

Dla moich uwielbiana Goshia
że spoczywa w moim językiem.

Não entendia quando falavas, mesmo assim te observava mastigar cada sílaba dentro da boca e me deixava transportar para tuas fronteiras, independentemente de visto ou permissões. Jamais me expulsaste disso, não se tratava de extradição. E um dia, subitamente, compreendi tudo o que dizias. E tu me compreendeste. E aquela língua que nascia entre nós teve o primeiro neologismo, a palavra entre. Acertada, radical anteposto a tudo quanto fizemos desde ali. Depois veio o beijo e naturalmente outras porções nada discretas do que éramos isoladamente em cada plexo, conquanto, desde aquela altura antevendo sinapses que fossem as mesmas para os mesmos pensamentos, para os mesmos atos compartidos. Entreatos a unidade florescendo, a cada dia um pouco mais de nexo em nossas falas. Estávamos fundando uma nação entre língua e corpo, entre significantes e símbolos novíssimos para as mesmas peças de engrenagem, para o mesmo percurso amante que se encontra no mundo inteiro e que era inédito aquilo que descrevíamos em nossos encontros. Até que veio a geografia, as milhas não cumulativas do que queríamos para toda uma vida. A independência, ainda mais bela e potente que a conquista, sanou nossos olhos oceânicos num beijo. Um único e demorado beijo de adeus. Em cuja história ficou suspensa a razão e a outorga de poderes, momento em que, mesmo distante, decidimos silenciosamente que seríamos perpétuos em nossa língua própria, entrementes ao reencontro. J.M.N.

Para ler escutando…

Enquanto ainda te ouvia

Não te fies no tempo nem deixe as nuvens puxarem teus vestidos sem permissão. Esperando a felicidade chegar, esqueci de pegá-la no porto, às horas tais daquele dia. Sou suspenso do chão por agora que minha terra foi devastada por tornados. Aqueles que me protegem não me deixam tocar o chão com os pés. Não te fies no tempo, amor, que a erupção daquelas cinzas já se extinguiu há muitos anos, apenas os restos planando no ar. Modestíssimas linhas escritas até agora. Memória nenhum merece o destino das minhas em ti. E aquele sabor de damascos em nossa pele de dia, depois que a palavra mundo deixou nossos corpos ainda me greta, ainda me fende. Eis o estopim da poesia, amor, que nem mesmo tempo apaga, que nem mesmo frutas secas esquecidas na memória deixam de saber ao que sinto. J.M.N.

Santos e andores

Perdão pela fama, pelo ouro de tolo, pela janela aberta ao tempo conjugado em aindas. Perdão pelos fatos mais destrutivos, pelos eclipses solares, pelas raridades de antes, minha garganta presa em teu nome chamando na chuva que viesses a mim. Perdão às plantas destruídas por minha fúria no quintal da tua mãe. Pisoteadas ao tento de saber que passei em ti, que mergulhei mar adentro em teus dias melhores, após nós dois. Perdão por ter nascido cozido, preparado ao banquete antes mesmo de decidir-me, antes mesmo de ofertar-me. Oro estas orações misturadas, a soma de tantas bondades por ai. Peço àqueles santos da despensa lá de baixo que me protejam, pois é chegado o tempo que previste, mausoléu para os medos, peito aberto e velas ao vento. Perdão por levar ófrio dos homens para teu lar, aquela besta que te perseguiu e amedrontou. Olho por olho deixei-a morrer. Sem armas dispostas, apenas abandono e nunca ter sido o que foste para mim. Tudo descansa. Minha intimidade mais amena que canta mantras e sapatos coloridos. Minha rispidez inaudita que te queria dizer adeus, mas sem ferida. Descansa aquele olhar de castigo que me tornava mortal. Antes de tudo, a mim mesmo. J.M.N.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A verdadeira verdade

O dobro pelo silêncio eu pedi
Cale-se naquilo que não enxergas, que não dominas
Onde foi que escutaste essa misericórdia?
Ela não existe não de mim, nem de ninguém
A palavra triste arrebatando, isso sim é beleza
Não menos viva que a morte natural daquelas rosas
Meu amor isso não se inventa, cobra-se
E o preço é viver em demasia, à vontade
Foi-me julgar pelo que era (a própria), isso sim
E essa é uma dor pela qual não pagarei jamais.

J.M.N.

Excertos Terpêuticos

“Fui acusada de fingir o amor,
à conta de umas mortes por aí;
mas eu garanto que não fiz mais que cantar
e agradecer as flores que recebi.

Porém há tanto homem infeliz
que necessita de muita atenção,
depois confunde tudo o que se diz e vai
embriagar-se por qualquer razão.

Eu não sei de onde sai
tanta gente a precisar de um coração
que me toma por um anjo,
nem pergunta se eu desejo
a sua afeição.”

J.P. Simões (Lili e o Americano – 1970)

Ofélia e suas semi-verdades

Lia livros de ponta cabeça. Ensimesmada e arduamente equivocada de tudo. Tinha feito suas escolhas no cabresto, por sorte de sua natureza errante, pouco amistosa. Dada a insuficiências cardíacas não na carne, ou na rede elétrica que faz o músculo pulsar, porém mais dentro naquilo que não tem segredo para quem ama. Ofélia escandalizava de tão serpente, de tão desorganizada. Um dia gritou independência. Chegara a hora de voar sozinha, sem parceiros, sem pecados. Infinitamente apaixonada por si, entro num templo para escrever suas memórias e esqueceu-se que aqueles que escrevem sobre sua vida ao meio desta, padecem da mortalha final antes do tempo. Ofélia sofria. Porque fazia questão de botar apenas suas palavras na boca alheia e um dia percebeu que todos ao redor eram iguaizinhos a ela. Isso doeu. Porém muito menos que acabar de esquecer-se em vida. Ele não ficou muito tempo. Acercou-se de todo amor que tinha e despediu-se. No adeus disse a ela a verdade que a salvou: sou apenas alguém, um homem apenas. Não quero viver em tuas lendas, mas ao teu lado. A cura foi feita para seu dia seguinte. Ofélia virou um segredo. Enclausurou-se no convento perto da Serra e virou eternidade. Sem precisar escrever-se ou demasiar suas desculpas. Passou o resto dos dias agradecendo a presença ínfima dele em sua vida. Era uma mulher apenas. J.M.N.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dentro dos sonhos temos crescido

Sim, germina. Eu disse ao meu irmão, apesar do cenho incrédulo que adiantava as rugas que ele ainda terá. Ele acreditava que a sua janela banhava-se malmente dos últimos fiapos da morte diária do sol, por isso mais propensa a damas da noite que a gerânios. Até que batestes à porta e nós já sabíamos que trazias nas mãos em concha nutrientes que o dia nos recusava. Meu irmão abriu devagar e o vento nas frestas assobiou algo que eu não entendi, só ele. Era uma canção de bons presságios, disse depois.

Sim, germina. Disse-me meu irmão. Vinha eu reparando demais nos passantes. Como essas gentes são insuficientes para amar, dizia eu. Eu media as passadas, as conversas, me metia na adivinhação de sonhos alheios. Inventava uns, confesso. Dessas riscas feitas no campo onírico eu extraia a leveza que a vida tem que ter. Eu e ele tínhamos os mesmos mananciais, sumidouros idênticos e pastos que se confundiam. Fingíamos possuir de sobra o que faltava no outro, sobretudo a razão. Ele sempre me dizia que o suficiente para amar estava dentro de nós mesmos. Ele me disse isso infinitas vezes. Acho que agora ele se convenceu. WDC

Ela não mora mais aqui

Corredores e roupas vazios. Não a sinto em canto algum. Nenhuma passagem ou estadia ou cheiro. Migraram seus gestos à sombra da noite. Sequer a causa da perda ou um compêndio sobre o seu funcionamento errático ela deixou. Tanto custou estar inteiro novamente e mesmo assim, uns pedaços faltando aqui e além.

Entretanto, há o alcance de nossos atos. Os mais ávidos – entre bons e maus, os mais mesquinhos – entre entregas e vinganças viraram sanha, desenvoltura própria para assassinatos. Acometidos em surpresas ora de pele e absolvição, ora de frangalhos e maremotos, sustamos os créditos. Carecíamos naquela altura de muito pouco à pertença, porém assim mesmo, abandonamos os planos.

O que ficou custa-me uns borrolós do nosso império. Nossos últimos avos adernando na memória, junto com naus, bandeiras e borrões. Ela não mora mais aqui. Não mora neste endereço. Não se aplica a entregas de pedidos antigos, utensílios domésticos. Ela desaforou suas mágoas e transferiu alcunhas a outras instâncias, outros ducados.

Faria-lhe uma serenata caso tivesse esperança, porém apenas um vício antigo que agora abranda. Sói-me uma canção triste e abandonada. Sonho com verdades, acordo abençoado e carente, entrementes assumido e bem descansado. Minha casa está aberta às visitas. Espero-as com as janelas abertas, com as melhores toalhas de mesa para o jantar. J.M.N.

Trilha sonora…

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cálido

Fujo ainda aos clérigos e seus dogmas, porquanto espio a intenção verdadeira a partir de outro mirante, o amor. Sagrado que reúne homem e poema num mesmo culto especial ao Pai. Poderes imanentes e emancipados. Sou todo ouvidos ao que me queima agora. Como cobrar de quem não tinha o que não me deu? Perdoo, que somente assim ando mais limpo. Perdoo-me, que somente assim posso continuar. Também não tinha muitas parcerias com flores e delicadezas. Às vezes, exigia demais, minorado pela matéria pútrida do avesso, aqueles canais abertos a todo tipo de opressão que me saíam dos poros. Hoje somente rasantes em áreas desabitadas. Não há batalhas campais, meus jogos estão entre paredes. Já me dói menos o reboco do tempo. Meu corpo chia, porém resiste que seu problema nunca foi o acumular dos anos, mas a quilometragem. Minha máquina redime o cansaço dos que batalharam por mim e, por conseguinte, dos meus sistemas a trabalhar vergonhas e esquecimento. Hoje o dia nasce e tudo cheira a novidade. Parece mesmo que ando fora de mim. J.M.N.

Aonde quiseres

O alto da minha voz te grita espécie um pedido de mais vida
Antes de vir tateias a sombra que eu faço, um junco te convence
e aterras tuas tralhas a arder em salvação operária, permanente
Mamãe me avisou que seria assim, suficiente quando chegasse
o interior todo revoltado, acometido que todo em festa está
Fogo encantado que sempre esperei no jardim de casa, a janela
aberta em passagem, a libertar meus cabelos emaranhados
Meu corpo impúbere grita a demasia da tua estada, convergente
Ademais, a terça parte da minha alma se aquece ebulindo adeuses
ao vago dantes ornado, minha língua sabendo a manjares
És aquilo acontecido entre as paredes da casa, entre os pilares
da Terra, minha antiguidade recente, abocanhada no arfar da espera
Estarei sempre inconteste, presidente de nada, minha autoridade
sentada sem pressa a te ver passar, indo e vindo constante
Tendo-me paço, para chegar aonde quiseres. J.M.N.

Permanente

Hoje acordei lembrando as partituras de quando abandonei a música e me dei à palavra. Estava todo de acordes e filarmônicas coberto. Úmido de uma noite inteira apegado às trevas boas que vêm quando estou dominado, estacionado em Plutão, por sobre as naus estrelares dançando os merengues que não dou ao público. Comecei pelo fim. Disse-lhe amor. Um único mesmo. De perfilar-se em dias comigo mesmo e apresentar-me novamente as estradas, os cortejos. Ela Aparecida. Nem santa nem puta. Entrementes tudo quanto eu quisesse, me disse. Já concordo de antes. Não é pouco subir essas notas em meu olho de novo. Sentir a audição limpa mais uma vez, a vida batendo à porta. Meu outro eu ainda presente, porém de costas, vendo as coisas como em um retrovisor, tudo passado. Ouço bemóis, sustenidos, um piano finíssimo e alentador. Mas não é ela tocando. É nosso vulto-parte. Nossa expressão idílica e feliz. O saboroso espectro que nos parte e recompõe ao seu sabor. A modelagem dos deuses finalmente em mim. Ando abalado. As estruturas nervosas a mil. Tanto e tão fundo que hoje dependi das pernas dela para o caminho e me pintei com a sua maquiagem para o nascer do dia. Não era um homem apenas, era um ente. Na rua as pessoas seguindo nossos beijos alados, cheirando a resina ambarina de nossos peitos potentes. Respirávamos como em uma regata ou uma marcha de vitória. Não são poucos esses compassos que me dão quando ela me ocupa. Não é menor a virtude quando desaguamos abertos e expelindo conteúdos indizíveis um no outro. Minha música retorna por através da sua. Minha palavra se rende deitada em plumas a ver gigantes nascendo na entrega, a ver Pilates lavando as mãos todo traído, perdido em homem. A última oferta será sempre a primeira: Eternidade! Acima de tudo. J.M.N.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tua

Com o pouco que sei de pronomes, saúdo
Àquilo que me tornaste dizendo-me, tua
Como minha parte feita, uma metade ou mais
Atrás de tudo que penso as amoreiras
Em flor dizendo a proximidade da relva que é
Teu canto transitando suave, tua, tua, tua
Abre-se a memória ao tempo mesmo
De ser-me a parte extensa, à parte o nada
Que antes me era expresso por onde eu vinha
Por onde eu não achava mais regresso
Falei assim aos meus imensos desertos, saiam
É tempo de um verde tanto e profundo
É tempo de ouvir “sou tua”. J.M.N.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Por ter te ouvido

Até santidade eu quero agora. Quando ela me encontra sou obrigado a trocar minhas roupas de baixo, tamanho descuido que meu corpo tem diante dela. Até manga e pupunha considero; outros muitos vegetais exóticos por alimento e cafés da tarde com sua mãe. Quando ela me deixa a postos para suas falas de assalto, desdobro; tamanha a fúria com que se soltam meus órgãos. Até benzer e suar na Antártida posso, depois que ela me possui em verbo, corpo e atualidade. Quando ela me deflora, seca que só ela por novas esquinas dentro do meu peito, rogo; tamanha a entrega de agora ou nunca que me rouba do mundo diante dela. Até penso que sou alado. Até concorro a galã de quermesse. Até advogo que diabos e querubins são todos da mesma espécie de fugitivos. Quando ela me diz estar apaixonada, não digo nada, porque tudo quanto tenho a dizer, dizem meus olhos evoluindo líquidos até constatarem que nada há a dizer, senão o que já foi dito. Até finjo que estou em mim mesmo, tamanha a felicidade de tê-la ouvido. J.M.N.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cumpra-se

Há um lugar guardado de eucaliptos. Amoras e cereais confiscam a fome neste canto do mundo onde eu fico agora cerrado, protegido. Incluso totalmente em planos e calmaria. Meu socorro é uma nostalgia pelo que é fruto do tempo, vírgulas e exclamações, porém diletas e ocupadas em fazer, não desfazer. Ou desfazer-se?

Quando olho o céu mil lâminas entre azuis e magentas andam a fazer-se. Domam o impróprio das vilezas já cometidas. Mas não precisam de perdão por agora que a vida ainda é vida, entre os demais órgãos desta pessoa. Nenhum um luxo sequer para o chão de deitar cansaços. Apenas os dias em sequencia límpida e atravessada por céus, que agora, sempre estão lá.

Olhai as coisas deste novo e delicado esquadro, onde suspeitas são apenas as melhores, onde formas são tantas que recriam sendas e alhures poéticos e nativos, os pertencimentos e mantos. Os calabouços de agora são velhos lugares sombrios. Longes demais para servir ao que seja. J.M.N.

Para ler escutando…

O outro sobre o qual foi construída a estrada

Já não gosto daquele personagem. Acho mesmo que nem o próprio se atreve à vida depois do que fez a si, confessando o peso de tanta coisa externa aludida. Essa confissão desfez a fortaleza dele, porquanto descobriu ele próprio ser tão aquém de querido. Tão amável para cão latindo no escuro em casa abandonada. Um ser iludível a expensas da censura atávica, único meio de reconhecido que havia antes do beijo dela, o qual eclodiu vísceras novas e tão menos reticentes.

Pode tentar voltar, mas não vence. Mesmo que o caminho seja de súbito deixado pelos passos. Aquele um não se aplica em amigo ou camareiro para hotel de pernoite sequer. Sujo como uma pilha de emolumentos corrompidos, extorquidos dos incautos por nefandos bandidos. Aquele um não tem memória de gente nunca mais, que isso foi a condição primeira para sua partida livre, sem a perseguição do cremar eliminatório dos ossos inúteis de memórias como ele.

Muito inteiro o que surgiu depois. Adiante da soma invisível de crença e pudor miúdo, uma vez que a força toda que carregava era do sofrimento alheio. Um outro aparecido mais digno e palpável, afeito a cortes e demais amenidades fundamentais à vida em grupo. Este outro que algemado desde muito novo repetia-se confuso e denso em apenas memórias solúveis, apareceu desde aquela manhã.

E agora onde anda o outro, secreta ilha em que desembocou o ataúde de suas mesquinharias. Aquele um estado de estrago completo, cantará evocação de repulsa, uma vez que não serve para nada, nem nunca serviu. O que tomou assento é desenvolto ao ponto de ser bastante amado. Ao outro, nem postais, nem diários. Apenas a solidariedade do esquecimento em si mesmo. Para sempre. J.M.N.

Para ler escutando…

Manuscrito de quarta-feira

Te gosto de ver falar Miva. Tão fundo que o chão do mar vem pra cima de quando emites um som qualquer. Meu dentro viceja. É como quando se anda pela calçada displicente e se encontra uma riqueza, uma bola de gude olho de gato, perdida, enxergando mais quase nada de tão arranhada e mesmo assim faz felicidade que destroça nota baixa, ranço com irmão mais velho e outras más verdades. Essas pequenas fortunas que se nos aparecem como sustos, mas ficam. Outrora tão roubado de mim que nem o espelho reconhecia e tinha aqueles vômitos matinais de como se fosse um verme em vez do homem que eu era. Eu morri para os espinhos Miva. Minha hora sagra que é de imensidão divina em todos os nossos beijos. Te aguardo sempre certo de ser feliz de pronto. E quando chegas tanto mais me surpreendo que acabo enorme de amplo, somado muito além do que eu me pensava na espera. Tu me estende, digo. Coloca quilômetro onde antes era milímetro. E Miva, a tristeza é tão desgraçada que nem te olha de frente, essa bandida. Esse é teu brilho. De convocar porta bandeira para teu estandarte de fé em pessoa que me agiganta, que me faz lamber menos o chão, pois tal imenso e levitado e leve que eu me encho de agora, vivo o presente. Eu só queria te contar essas coisas Miva, para que tu soubesses que agora me acordo em letra e desejo, que sou todo íntimo de te ver nua e acordando em montinhos dentro do teu próprio corpo. Te sou tão reservado que caibo justo na tua agenda e isso não me devora como fosse infrutífero caber em horários e esquemas. O que eu tenho, dou. O que eu quero, deixa estar que te conto mais a noite, um pouquinho antes de me rezar para salvar a carne, pois que minha alma já está num paraíso que só vendo. J.M.N.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Perguntas de Ontem XXI

Enquanto o mundo em guerra chorava, estalavas os dedos e recebias comida, nenhuma energia brotava. Meu amor em trincheiras pedindo. Enquanto mundos ínfimos se confirmavam, corrias à loja para comprar apenas um lenço. Em adeus apenas balançava, sem ir à estação, o trem morrendo distante. Enquanto profetas extinguiam-se frente à realidade mais sombria, envolvias-te num passado inteiro, como as cotovias daquele poema de Blake. Sob os céus adoráveis que te prestaram oferendas e poemas, dormias. E era sempre esse esperar atormentado e sem sentido, essa passividade alucinada e sem perdão que entre agora e minhas visões de amor, partiu-se a lembrança que era tua janela aberta em mim. J.M.N.

Pergunta de Ontem: Por quanto tempo mais permanecerás esperando?

Memória pétrea

Ela esteve em tempo de me domar
Arrancar pele e ímpeto e coração
Veio outra e me salvou
Degolando crias e superstições, porém
Ela morreu num dia de outono
Tudo cinza e feminino demais para caber
Nela, cuja fala deslocada morreu antes
Ela esteve em vias de me conquistar
Acabou o vento, barcos voltando
A expedição ao meio, naufragou
E sem cartografia, o continente
Nem chegou ao cheiro da vida
Ela esteve em tempo de me perder
Adoração iludida de mim mesmo
E quando achava que era apenas
Pouco demais para trazê-la à vida
Ela me veio já nascida
Ela me veio socorrer.

J.M.N.

Descobertas, manhãs e outros quintais

Vê se me entende, agora as coisas têm vida própria, uma energia para além do que eu quero ou posso. Não cabem mais entre muros as esperanças e a sanha do mal é apenas lembrança. Emoldurada pertença sob o signo de Jorge. Minhas rezas voltaram, meus dias tão curtos abriram portas de vento para o rogo do belo e da suficiente alegria de estar entre abraços. Quieto. Cuidado. Lustroso em sorriso farto e peito imbatível. Nada de glórias a restituir apenas significados. Minha dormência indo ver horizontes em vez de poços letais. Minhas letras pairando levíssimas em vez de pedra ou toneladas de adeus. Uma única memória insatisfeita minha morte não ter um nome para eu descansar em paz nessa vida. E se eu chamasse qualquer coisa ela viria perguntar se é hora. Pobre dela que agora concorre com uma musa, com uma dona, com a parte retornada do mundo que nunca foi meu, mas sabia que chegava a hora. Mundo de azul e violeta, de auréolas de neon e cheiros abissais. Mundo de dois em que cabem rumos, livros e bem-te-vis. Mundo de ontem, hoje e memória sobre cujas vigas nascem manhãs e outros quintais. J.M.N.

Palavras de Ontem Indica

UM LIVRO:

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Quando li pela primeira vez Guimarães Rosa, o fiz obrigado por uma das irmãs do Colégio Santa Catarina que, para me manter de castigo na biblioteca depois de uma bela estripulia, entregara-me Sagarana para que eu escolhesse um conto e resumisse para ela antes do fim do castigo, o que, aliás, jamais aconteceu, pois fui perdoado em troca de muitos pais-nossos e ave-marias, além da participação de uma ação solidária em nome do Colégio.

Apesar disso, Manuel Fulô, do conto Corpo Fechado ficou-me na memória por muito tempo, como um dos muitos possíveis alteregos que viessem me socorrer em meus delírios literários.

Muito tempo depois, como busca por estilos próprios encontrei-me novamente com João Guimarães Rosa em seu primeiras estórias e ai, outras muitas personagens tomaram o lugar de Manuel Fulô, tal como Ninhinha, menina que ao sussurrar deixa, deixa, redimia todas as culpas de em redor e quando queria doce de goiaba era só pedir que vinha.

Esse Guimarães sem castigo ou obrigação mudou tudo quanto eu sabia de regionalismo brasileiro. Primeiras estórias é, sem dúvida uma preciosidade da literatura brasileira e mundial. O mel do maravilhoso desse ofício que muitas vezes apenas aplaca dores muito fundas em nós, escrever para dar sentido ao insondável com a palavra mais viva do que nunca. Assim Guimarães se colocou entre meus prediletos, assim deveria constar entre os obrigatórios.

 

UM FILME:

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The American (2010), título original deste filme do premiado diretor Anton Corbjin é uma das boas opções que já podem ser encontradas em locadoras. George Clooney pode não acertar sempre em seus papéis , mas já havia mostrado uma possibilidade de boa performance em Syriana, e, repetindo comedimento e uma boa dose de canastrice silenciosa não fez feio nesta película meio sombria e lenta, com uma fotografia primorosa, uma vez que Corbjin antes de ser cineasta notabilizou-se como fotógrafo, tendo sido o responsável pelos principais, ou, pelo menos, mais profícuos registros fotográficos do Joy Division.

Por conta disso, não haveria outro diretor com maior intimidade para realizar o sensacional, Control, sobre o qual já falamos por aqui, e para realizar um trabalho “essencialmente europeu” como declarou Clooney em outro lugar, tornando o interior da Itália um oeste contemporâneo onde personagens integrantes de uma guerra ainda ativa travam relações entre a solidão e a necessidade de se ancorar em algo que mesmo efêmero, signifique uma redenção em meio ao caos presente.

Com roteiro de Rowan Joffe, cujo trabalho anterior Last Resort (2000) já tinha me dado bom indício de sua mão de roteirista, Um Homem Misterioso tem a presença estonteante de Violante Placido, um belíccima atriz italiana que contracena com Clooney e cuja beleza muitas vezes rouba a cena e traz ao centro do enredo a questão de que no meio de tanta solidão e reclusão, o personagem principal – Clooney – tem um abrigo. Vale à pena assistir.

Trailer:

 

UM DISCO:

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Presentaço de um grande amigo, este disco de Tereza Cristina caiu imediatamente nos preferidos do meu aparelho de som (quem, aliás, escolhe seu próprio repertório). Sensacional mistura de sambas e vozes únicas, como a de Marisa Monte em Beijo Sem, música de Adriana Calcanhoto, a qual, segundo meu pai ficou melhor do que a original e olha que ele advoga que a original é sempre a melhor.

Combinação maravilhosa com Seu Jorge na musica não menos atrativa de Arlindo Cruz, Pura Semente, além de um banho de interpretação da própria Tereza em Lembrança, de sua autoria e com versos lindos tais como: Cuidado com a sinceridade/Já mataram a verdade e eu não li no jornal/Que o mal dessa gente miúda/É fazer da palavra luminoso punhal.

Disco lindo! Ouça aqui

J.M.N.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Insígnia

Até senti-la ida, de fato, não atinara. Aquela outra pele que me ficara por sobre. Veludo de se morar em baixo pra toda vida e mais além. A língua dos astros mais luminosos em mim. Alcançava-me a morte, a pobreza dos dias sozinhos. Derramara-me com vigor o pó do lindo, do deslumbrante. Ela que já ida era como que mais ficasse por não ser exatamente um corpo apenas sua estadia, por não saber unicamente a beijos e sensualidades seu convite a mim. Ela com sua túnica de amenidades, curou meu pileque. Que com a febre de descobrir me abriu novamente as filiais de poder e querer e estar-me inteiro. Ela. Em cuja letra inscrevi mais um diálogo, em cujo som abandonei mais um silêncio, em cuja rede descansei mais uma era. Foi-me arcando de pouquinho e me dizendo fica, dorme, mora, partilha. Eu apenas concordei. J.M.N.

sábado, 4 de junho de 2011

Duas ou três coisas que ainda preciso saber de ti

Quando me alistei numa guerra já perdida, sabia que estava fugindo da certeza de que teria que dividir com o trabalho, a igreja e outras trincheiras. Fugia de mim, do meu ciúme, dos meus crimes. Atravessei todas as dores, mas ainda temo a travessia da porta da tua casa, esse Bojador sempre disponível às minhas investidas. Temo passar tempo demais cheirando o teu braço e te atrasar para a igreja, alienado na procura dessa essência esquecida. Mas ainda tens um tanto a me mostrar. Ainda não sei que cor tem teus olhos quando acordas. Meus dedos ainda não decoraram o comprimento da pequena cicatriz que levas próximo ao seio. Ainda não sei se serei devoto das delícias que és capaz de fazer com um abacate maduro. Ainda não descobri aquele cantinho que funciona no teu corpo como um portal para paraísos secretos. Ainda não tens nada meu nos teus cabides como uma prova de que entre as tuas coisas é onde sempre eu quis estar. Continuarás juntando teus batons e levezas para o beijo? Continuarás somando nas tuas planilhas os minutos compartidos? Me avisarás que mais uma vez aquele teu toque em ti mesma poderia ter sido meu? A pergunta é: continuarás me esperando? WDC

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Aparecida

Para Maria Aparecida Brasil Xavier
Com imensa saudade

Aparecida me deu surpresa maior de todas hoje. Concebida do avesso que foi sem dizer adeus. Nenhuma mortalha foi nela que àquela mulher não diriam para ser coberta com o que não quisesse. E este trapo não lhe cairia de todo. Foi mais um repouso, finda a corrida, o esforço. Ninguém haveria de ver o rosto, o apego derradeiro com que se foi a levantar as terras dos altos céus, como se naquele voo de anos antes para as terras que ninguém mais queria visitar ela passasse novamente pela minha lembrança. Ia reclamando de nós todos. Deixávamos o mole de todos os homens ser convencido pela outra. Uma outra sobre quem Aparecida descontava umas palavras que não se repete. Não tinha mal. Não era de coração negro que dizia. Mais como uma bandeira de ser agitada. Rebordo dos tempos de dura luta. Minha amiga se curvou ao terrível maior dentre os terríveis que existem. Mas não foi sem ser fera, sem duro esperneio, porque aquela pessoa que muito me falta nos olhos agora tinha sempre um concreto para dizer. E me deu tanta alvenaria nas minhas cruzadas, que lhe devo muito mais que aquelas preces encardidas de enquanto ela se ia longe de mim. Nenhuma tristeza é maior que essa impedida ânsia de revê-la. Nenhuma outra vida podia ser melhor à minha saudade que esta mesmo que tenho com meus imprecisos, por conta de que foi nela que Aparecida me apareceu. Nunca sumiu de minha conta, quero que ela escute bem onde esteja. Doutra maneira é que me lembro dela. E aquela generosidade sua foi que me mantinha longe de sua porta. Que aquele corpo que eu soube hoje era murchado, bem ferido, não mais lhe pertencia havia tempo. Pertencia àquilo que lhe roubou da gente. Por essa aquela grande bondade que tinha no peito é me lembro dela sorrindo. Como nunca ida. Aparecida aparecerá. Sempre que sempre ela vem. J.M.N.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

De convites e abraços mágicos

Estas palavras são de acordar os rios de dentro dos meninos. A lembrança indo atrás daquele conforto onde aconteceram as espécies mais antigas de amor. Se não estavam de maneira aberta nesses últimos meses, aconteceram oportunamente diante da tua surpresa, igualmente andando atrás dos possíveis sobre os quais não havia mais notícias.

E chegada a hora de dizer as palavras finais, houve aquilo. Uma escultura silenciosa e feita de mãos pousadas sobre quebradiços anseios, pequeníssimos mistérios e mais os avos incontáveis de segredos sobre a gente. Cauterizava tantas aberturas na carne, aquele gesto. Ia untando o cume das defesas a permitir que deslizassem livres as surpresas novas. Realmente verdadeiras as impressões trocadas.

Depois de tudo as permissões. Autoridade concedida a ambos. Como se fora um habite-se que se provinha em órgão justo, como a vanguarda de capturar a língua em pequenos desacertos bem medidos e entregues. Quando não pensávamos encontrar logística, acordou antes mesmo de nossa vigília a vontade. Havia-se instalado a mutualidade, o mais permanente dos convites. Um desejo inteiro que já acorda aonde não chegamos ainda. J.M.N.