domingo, 4 de janeiro de 2009

As primeiras lembranças do ano

Sei que não haverá amanheceres como aqueles. Sei, no fundo, que as cores desistiram de minhas telas e as paisagens, por conseguinte, ficaram desimportantes. Ando como um homem esperando o outro homem a quem dei vida tornar-se parte da história, fazer sombra como um valente, entender os segredos quem me antecedem e quem sabe desculpar minhas faltas. Sei que não haverá dia para isso, e, portanto, apenas espero. Espero como antes esperava a morte, ansiando mosquetes e rebeldias. Hoje o truque é o registro das despedidas, uma vez que não há ímpetos de valentia e o sono é deveras sossegado. Sei que nunca haverá celebrações e que as cartas trocadas anos depois foram apenas para dizer que morremos um para o outro, apesar de estarem repleta de amor e reconhecimento. Escrevi a minha, pois naquela altura senti-me inteiro, como um homem inteiro, como um pássaro atônito a esquecer as migrações e rumar sem rumo para abraços infinitos. Estive ontem revisitando estrelas e cantando coisas que sempre partiram de ti e neste fazer de passados diminutos, pude encontrar o que me faltava – nossa história. Escrita como em sonhos diurnos, nostálgica na medida exata e sempre repleta de citações e fortunas, um presente esplêndido como a tua respiração a soar descansada nas manhãs de domingo.